O caminho já não é de terra, mas as árvores continuam lá, agora
despidas, porque é inverno. A cada passo, ora enlodam, ora estalam as folhas
porque de um lado faz sombra e, do outro sol. Tudo belo, se estivermos
atentos. Beleza envelhecida da natureza, onde a morte se transforma em coisa bonita, ainda que esborrachada no chão. Sabemos que haverá sempre algo que
brotará viva entre as emendas da calçada. Mas como é feio morrer quando se é
pessoa… O corpo apodrece sem utilidade alguma, ou queima-se, continuando a não
ter utilidade alguma. E nos passos que dou, lembro-me que em Dezembro fomos
levar cravos vermelhos ao pai. É uma coisa sem sentido oferecer cravos a um
morto, mas é tão grande esta nossa teimosia de prolongar a vida depois da morte,
que fica coerente fazê-lo. Depois, virá Abril e, levaremos flores
indiferenciadas à mana, porque não nos recordamos da sua flor preferida. Em
Maio, levaremos rosas brancas para a mãe e, repetir-se-á o ciclo das datas
especiais, destes que, suportam o mármore branco. Mortos. Creio ser coisa que
nos apazigua a saudade e, as flores serão sempre para nós.
Choram-me os olhos da frieza da manhã, os dedos, por entre
os fios de cabelo, arrepia-me a nuca e, este gesto banal liberta-me o rosto. A aragem
sabe-me bem neste caminho de folhas mortas.
Texto e
fotografia
Mz