quarta-feira, 18 de julho de 2012

Férias no Céu!



Há minha maneira, quero rumar ao céu
Sem motor,
Sem asas,
Sem bagagem,
Sem corpo.
E se não houver céu, irei na mesma confiante.
Há minha maneira, existirá sempre um lugar.
O pensamento tem sempre coisas.



Mz



Imagem:Tela de Closed Eyes, 1895
 
Odilon Redon - Google

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Ponto Negro.


Primeiro, pareceu-me apenas um ponto negro na toalha de mesa. Minúsculo. Dei por mim com uma lupa a verificar que surpresa tão miúda era aquela. Uma concha espiralada. Uma casinha perfeita. Um caracolinho tenrinho e a sua baba de prata!
Pequenino, tal qual um ponto negro. Era o suspeito na minha toalha.
Concluída a busca e reconhecimento, Le Petit Escargot, deveria ter sido esmagado logo à primeira hipótese.  Mas coloquei-o sobre uma ramada de hortelã que tenho num dos vasos de ervas aromáticas do meu também minúsculo jardim de varanda larga.

E escrevo este texto banal, porque, mesmo nas coisas mais insignificantes, vamos alterando formas de estar. O facto de me encontrar  longe  da aldeia, faz-me esquecer as vezes que eu maldisse destes predadores de alfaces tenrinhas e morangos da horta de minha mãe. Agora, entendo a minha amiga Alex que tem umas quantas galinhas velhas apenas para darem ovos e se recusa definitivamente a fazer delas umas boas canjas caseiras.


Mz
Imagem: Galeria de obras de Fernando Brotero
Pintor e escultor colombiano


quarta-feira, 4 de julho de 2012

A Viúva


Não me canso de dizer que agora sou viúva. Guardo sapatos de defunto em caixas brancas à espera de pés quentes com o mesmo número. Suplico por conversa. Falo dos fatos quedos que não sei a quem dar, agora, que não tenho marido. Já não capricho nos almoços, vou depenicando coisas simples sem grande vontade. Consolam-me as sobremesas e algumas victórias nos jogos de tabuleiros com as minhas amigas. Existe silêncio em demasia na minha casa. Acho que vou adoptar um animal de estimação para me acompanhar nas sestas de Verão, e se ele me emaranhar as linhas do crochet, sempre poderei soltar uns palavrões, para depois, perdoar as traquinices do bicho.
Há noite, corro as novelas e deito-me tarde com a ilusão de que a noite  seja menos longa. Não sem antes espreitar à janela se corre vento ou se consigo ver uma estrela ou outra.

Um chá ao deitar da cama com um lugar vazio ao meu lado, não é grande motivação para passar ao nível seguinte das partidas da vida. Amanhã, vou arranjar um gato para poder acariciar e sentir o bater de outro coração.


Mz






Imagem:Galeria de:

Escrito para  Fábrica de Letras
Tema: Motivação