Existem pessoas peculiares.
Esta de que vos falo, nunca tolerou
costuras coladas ao corpo. Não se lamenta das palmadas levadas por ser tão birrento
com tão distintiva irritação. E passou anos e anos a revirar as meias e toda a
roupa interior que vestiu por ter de cobrir o corpo do pudor que a lei exige
cobrir. E assim andou, resmungando e praguejando anos e anos com quem lhe tratou
da roupa sem nunca respeitarem estes gostos contrários de preferir andar ao avesso.
A idade foi uma jornada sempre com os mesmos tiques e comichões. Assim andando, outros
apêndices incomodativos se lhe juntaram; os sapatos que lhe apertam os joanetes
e a maldita dentadura que lhe dá um doloroso charme. Sabe que é uma pessoa boa,
porque assim lhe dizem os outros. Dão-lhe palmadinhas afetuosas libertando-o da
consumição de todas estas birras e resmunguices. Sorri porque resiste a mais um
Dezembro sabendo que o mundo não se vira ao contrário por alguém se vestir do
avesso.
Avesso que dá cautela, é o mundo dos homens que os obriga a
um sorriso azedo ao se remendarem vidas costurando um ponto aqui,
um ponto ali, cerzindo a exploração do homem pelo homem que se faz sem pudor à
luz das Boas Festas.
Mz
Imagem: Tela Vincent Van Gogh