quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Vida...



A vida nem sempre tem mordomias.

É nascer.
Espernear furioso ao sentir pela primeira vez o ar que arrepia a pele. A Ira de vir ao mundo com obrigação. Obrigação de aprender depressa, de respirar sem apetecer, nascer zangado. É sempre assim... Nascer zangado e depois acalmar nos braços de alguém que ainda não viu bem. Sentir o primeiro toque de outra pele. Saciar a fome procurando algo que não conhece. Não conhece mas sabe que vem dali. Do peito de uma mulher, um sabor doce e morno. Nascer zangado e também acalmar no colo quente. Sentir-se protegido e saciado. Confiar. É sempre assim ou talvez não... Nascer para toda a vida e nascer todos os dias assim.

Viver um dia de cada vez. Acordar calmo ou apressado. Trabalhar, mesmo que não apeteça. Aprender depressa. Arriscar e confiar.
Não esquecer de respirar e, acalmar com um abraço. Ser feliz ou nem por isso.
Mas, primeiro nascer. Nascer e festejar ano após ano ou todos os dias, até ao fim. Festejar a vida.
Existem também as prendas que, algumas de tão ridículas, ficam esquecidas na gaveta.Melhor assim...de mim, somente as palavras.E deste jeito, invento mil e uma formas de te dizer parabéns.AQUI.



fotografia de Diário de Lisboa





Com carinho
Mz

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Outros Fados...


Outros fados...

Porque a vida não é só mágoa e lamento.
É também alegria, afagos, cumplicidade.
Fados existem também que me acalmam e me serenam a alma.
Sons de guitarra e vozes em melodia.
Palavras que se alongam na minha vida.
Promessas de marés desiguais mas certas como o dia que precede a noite.
E, são fados que me levam a subir colinas.
Que me arrastam até ao Tejo e convidam a navegar, segura.
Tenho dias felizes ainda que, outros confusos e aflitos.
E tenho este fado afinado.







Fotografia de  Diário de Lisboa


Com carinho
MZ

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Só...



Tão doloroso como uma doença é sentir-me só.
Desoriento-me. Afundo todos os meus sorrisos numa apatia estúpida. Enrolo os pensamentos num turbilhão de imagens sem conseguir ver-me assim. Preciso de pessoas, de palavras, de gestos, de movimento.

Os meus momentos de solidão só são bem-vindos quando os peço, não quando eles aparecem e me deixam assim numa ansiedade capaz de me apertar o peito.

 
 
 
Fotografia de Lisboa Diários Cult
 
 
Com carinho
Mz

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ver...


Hoje não me apetece escrever sobre o tempo ou sobre pessoas...
Não me apetece olhar para o relógio nem para o calendário.
Hoje, o que me apetece é, VER.
Ver para além do óbvio.

Talvez careça de um objecto que aumente o que eu não consigo ver com evidência. Ou mesmo um objecto que me mostre o que não vejo.
Talvez um aparelho sofisticado bem ao estilo dos grandes laboratórios científicos. Qualquer coisa que me amplie milhões de vezes as coisas que eu não consigo enxergar a olho nu. Talvez eu nem queira ver nada. Nada! Nem mesmo o que se me depara pela frente com óculos de ver ao perto e ao longe. Óculos não! Não uso óculos.
Voltando aos objectos...
Talvez uma lupa ou um par de binóculos me ajudassem a ver tudo mais nítido e, o que se me apresenta longe, se torne mais próximo de mim. Próximo, tão próximo ao ponto de desfocar completamente e tudo se tornar numa mancha branca onde eu poderei finalmente desenhar o que quero para hoje.

Deixar o céu em branco, pintar nuvens de azul.
Desenhar um sol alaranjado de olhos esbugalhados e sorriso muito rasgado.
Uma casa amarela com uma chaminé sem fumo.
Uma flor em cada vaso no jardim.
Árvores com laranjas e maçãs penduradas.
Um homem e uma mulher de mãos dadas num caminho simples, sem encruzilhadas e sem curvas até ao infinito.

Esquecer o complicado.
Ser infantil, básica e simples.




Imagem :Google




Com carinho
Mz

domingo, 9 de janeiro de 2011

Lago dos Cisnes...


Não resisto em partilhar com vocês a minha melhor prenda de Natal...
Este espectáculo maravilhoso de dança clássica "O Lago dos Cisnes" pelo Ballet Estatal Russo de Rostov.  Um dos ballets mais belos e célebres  de Tchaikovsky.
A minha noite de Reis foi uma noite mágica!







Com carinho
Mz

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Dignidade...



Sabiam que para eles não iria haver domingo possível para jurarem amor eterno no altar da “sua” Igreja.
Nunca iria haver domingo com chuva de rosas desfolhadas...

Ela iria herdar em breve, pela morte de sua mãe valiosos terrenos, alqueires de milho, pipas de vinho e arrozais. Ele, para além da sua inteligência e perspicácia para o negócio não possuía mais nada.

Era uma época de mentalidades quadradas e de imposições familiares sem contestações.
Os lavradores, olhavam a terra como ouro e viam no amor  um sentimento demasiado luxuoso para partilhar com um Zé-ninguém. Quando assim se pensava, as aldeias possuíam não só casebres de terra batida, caminhos de pó e lama, mãos calejadas, pés descalços e fome. Quando assim se pensava, praticava-se também de certa forma alguma pobreza de valores e, a palavra preconceito, não existia num vocabulário onde o analfabetismo começava aos poucos a incomodar quem queria mais da vida.
Maria Rosa sabia que o pai nunca a deixaria levar avante esse casamento de desigualdades. Mas o que seria do mundo sem o amor, sem a coragem e sem os desafios?
De saia plissada e blusa branca de cambraia, cabelo entrelaçado numa generosa trança, rosto limpo e os olhos mais brilhantes  que alguma vez possuíra, desceu ao largo da aldeia ansiosa e decidida. Não teriam um domingo mas, uma madrugada de sábado com a cumplicidade do padre-cura e do sacristão. Assim, enquanto toda a aldeia acordava, os sinos tocavam em sintonia. E, naquela manhã de Setembro tornaram-se marido e mulher aos olhos de Deus conforme mandava a lei da Santa Madre Igreja. Casaram em segredo e, ninguém jamais, poderia separar o que Deus uniu.

Subiram a ladeira da aldeia de braço dado. Ela, sem vestido de noiva ou flores de laranjeira. Ele, com a sua dignidade. Juntos pela primeira vez, tomaram o café aguado feito nas brasas do fogareiro de ferro e trocaram dentadinhas de pão de centeio aquecido no braseiro da fogueira matinal. Almoçaram sardinha assada e ainda hoje, passados cinquenta anos, recordam o dia mais maravilhoso que tiveram antes de nascer o primeiro filho.



Para a Fábrica de Letras
Tema: "Preconceito"



Fotografia: jfifas



Com carinho
Mz