Como dizia a minha mãe, em dias de vento, anda o diabo à
solta. Eram coisas de antigamente e sempre que acontecia, pregava-se-lhe uma
dor de cabeça do tamanho do inferno. Fosse lá o que isso quisesse dizer, eu era
criança e ficava impressionada. Hoje, lembrei-me disto, porque o vento andou
por cá. Uma manhã turbulenta de vento cantor, solto e alegre sem que nada
tivesse parecenças a diabo algum. Os gansos grasnaram daquele jeito de que eu
gosto e, parecendo combinados, juntaram-se latidos de cães, trovas de galos e
crianças em galhofadas. Uma cantoria maluca que, de vez em quando, pausava para
dar lugar a “Mitroglou”, a perua de estimação do vizinho do fundo da rua. Desafinada,
de grugulejar grave, vozeava mais abafada que os outros cantores. Para nada lhe deve importar a afinação,
porque nem todos têm jeito para cantar e, melhor que tudo será, sem desistir do
compasso, a espera das migalhas de bolo deste domingo, para amanhã deglutir.
mz