Se fosse eu, uma refugiada?
Se tivesse de fazer a minha mochila, de certeza que não a faria com sentimentos poéticos como alguém disse por aí que, levaria
lá dentro apenas toda a saudade. Saudade? Na guerra não se pensa na saudade
desta forma. A saudade é, para depois.
Na minha mochila levaria alerta e sobrevivência.
Agradeceria o bom censo quando, num momento de caos ao abrir a minha mochila, observar
que tive o sangue frio de lá colocar qualquer coisa que me aqueça, me encha o
estômago, me mate a sede e me limpe dos suores frios do medo e da terra chão
que supostamente me serviria de cama. Para além da identificação, o telemóvel e
o carregador. O meu disco externo que é leve e pequeno, um livro, um bloco virgem,
vários lápis de carvão e um canivete suíço. O dinheiro em notas pequenas. E sem
pudor digo: levaria as minhas jóias cozidas nas bainhas internas da minha roupa.
Em sobrevivência é preciso também ter moeda de troca, ser calculista. E tenho a
certeza que no horror da fuga, a poesia até poderia estar na chave da minha
casa supostamente já em ruínas onde estaria também, toda a saudade.
mz
fotografia
da minha autoria
“E se fosse eu?”
É uma campanha inspirada no projeto “What’s In My
Bag?”, desenvolvido pelo International Rescue Comitee e pelo fotógrafo
Tyler Jump, que fotografou um grupo de refugiados que chegou à ilha de
Lesbos, que mostrou o que levavam nas suas mochilas quando tiveram de
fugir.