Talvez porque a Páscoa foi há um par de dias, acordava o
cordeiro rodeado de uma quantidade exacerbada de flores. Pensou que o tinham
trazido para uma festa. Mas nada disso justificava o corpo quase inerte, os olhos
mortiços e o coração a bater forte. Numa inexplicável ansiedade, estrebuchou. Os
movimentos amarrados deram-lhe conta que todo aquele engalanar era um embuste. Os
olhos tornaram-se vivos e sentiu que representava o sacrifício. Suspensos como sombras,
movimentavam-se os machados que cortavam as conquistas e os cravos e quase,
quase o aço a roçar-lhe a pele.
mz
Imagem: tela de Josefa de Óbidos
Pintora Portuguesa aqui