Faz-te à escrita!
Escrever algo com sumo, dá trabalho. E, para quem não saiba,
não se apanham ideias como quem apanha fruta da árvore. É preciso ter queda sem
se cair na tentação de nos desviarmos do que a fábrica nos pede. A gerência
está atenta, mas não usa lápis azul, por isso, dá-nos liberdade. Não censura e é
imparcial. Eu gosto disso. Contudo, a fábrica limita-nos a criatividade com
aqueles temas impostos. Temos de nos contentar apenas com as palavras em
paletes, esse material guardado à espera de ser esgotado. Estantes de letras em
stock, separadas em caixas de A a Z. Letras e mais letras obedecendo à gestão
de regras administrativas. Tudo registado para que não faltem as quantidades
certas a produzir textos e reflexões à medida de uma encomenda. Estão a
imaginar uma fábrica assim? Ela existe e eu escrevo a encomenda nº 44.
Mz
Fábrica de Letras
Imagem: Pintura de Fernando Botero