terça-feira, 6 de novembro de 2012

Fábrica de Letras


É difícil escrever por encomenda. É que as palavras não andam por aí à vontade do freguês como quem vai às compras, pega no carrinho e toca a andar, toma lá um tema e desenvolve.
Faz-te à escrita!
Escrever algo com sumo, dá trabalho. E, para quem não saiba, não se apanham ideias como quem apanha fruta da árvore. É preciso ter queda sem se cair na tentação de nos desviarmos do que a fábrica nos pede. A gerência está atenta, mas não usa lápis azul, por isso, dá-nos liberdade. Não censura e é imparcial. Eu gosto disso. Contudo, a fábrica limita-nos a criatividade com aqueles temas impostos. Temos de nos contentar apenas com as palavras em paletes, esse material guardado à espera de ser esgotado. Estantes de letras em stock, separadas em caixas de A a Z. Letras e mais letras obedecendo à gestão de regras administrativas. Tudo registado para que não faltem as quantidades certas a produzir textos e reflexões à medida de uma encomenda. Estão a imaginar uma fábrica assim? Ela existe e eu escrevo a encomenda nº 44.
Mz
Fábrica de Letras
Imagem: Pintura de Fernando Botero