O ano passado, por esta altura, viram o "nosso" sem abrigo lá para os lados de Lisboa.
Descia a Graça desajeitado, andrajoso o desgraçado. No calor abafado, deixou-se dormir às portas de uma qualquer igreja e, de boné estendido na calçada, caíram moedas de cêntimos numa cadência monótona e de valor musical diminuto. Deixou-se dormir indiferente. Sem querer, colou-se o dia à noite. Ele gosta de igrejas, não é a primeira vez que toma de assalto a caixa das esmolas. Na descida, talvez lhe pesassem os bolsos de moedas, as do boné estendido e as destinadas aos santinhos. Talvez tivesse como destino, o Cais do Sodré. Gastá-las em tabaco e vinho, terá sido tarefa fácil. Não sei! Não sei se o quererão por lá. Se assim foi, talvez tivessem chamado a polícia ou tivessem zombado dele. Talvez tivesse levado uma tareia de outros... de outros malandros da noite. O mais certo é terem-se afastado dele, deixando-o a praguejar sozinho. Sim, talvez ainda hoje se afastem dele, do seu mau cheiro, do seu jeito louco e esquizofrénico.
Com carinho
Mz