Não me canso de dizer que agora
sou viúva. Guardo sapatos de defunto em caixas brancas à espera de pés quentes
com o mesmo número. Suplico por conversa. Falo dos fatos quedos que não sei a
quem dar, agora, que não tenho marido. Já não capricho nos almoços, vou
depenicando coisas simples sem grande vontade. Consolam-me as sobremesas e
algumas victórias nos jogos de tabuleiros com as minhas amigas. Existe silêncio
em demasia na minha casa. Acho que vou adoptar um animal de estimação para me
acompanhar nas sestas de Verão, e se ele me emaranhar as linhas do crochet,
sempre poderei soltar uns palavrões, para depois, perdoar as traquinices do bicho.
Há noite, corro as novelas e
deito-me tarde com a ilusão de que a noite seja menos longa. Não sem antes espreitar à
janela se corre vento ou se consigo ver uma estrela ou outra.
Um chá ao deitar da cama com um lugar vazio ao meu lado, não é grande motivação para passar ao nível seguinte das partidas da vida. Amanhã, vou arranjar um gato para poder acariciar e sentir o bater de outro coração.
Um chá ao deitar da cama com um lugar vazio ao meu lado, não é grande motivação para passar ao nível seguinte das partidas da vida. Amanhã, vou arranjar um gato para poder acariciar e sentir o bater de outro coração.