segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Madrugar ao domingo




Quando se dorme na aldeia, madrugamos sempre, ainda que possamos dormir pela manhã adentro. Eu madrugo, porque os pássaros não me deixam dormir e, as tias também, porque a missa, é às nove. Mas ontem, porque me quiseram mostrar os arrozais, abdicaram da rotina e descemos a encosta, sem pressas. A última casa, na curva apertada, um estendal de roupa estática à fina névoa matinal, sem vento, e ainda sem sol, a fazer lembrar os dias em que a bruma está presa por um fio. No trilho do rio, a poeira já levanta fina e opaca, a cada passada, as dores de artrose ficam esquecidas e, das tias, já não há lamento. Entram numa espécie de encantamento, ganham poderes com o cantar do rio esperto, o voo das cegonhas, os pântanos cobertos de uma penugem de erva tenra e, depois, as espigas ainda verdes a esconder o bago que será maduro, em breve. É uma espécie de feitiço quando entram nos arrozais.



mz





fotografia da minha autoria,
Mz