domingo, 27 de junho de 2010

DO (caminho)


Eu gosto do azul e o azul acalma-me mas, há um azul que me desassossega.
É um azul que não é o do céu nem do mar. É um azul que me põe à prova.
Não pode ser dado, roubado ou comprado, porque é o azul do meu querer e da minha vontade. Só eu o posso conquistar.
Eu disse que a minha vontade tinha de ser forte... e não desistia.
Não desisti!
Ontem, foi uma manhã de exercício mental e de movimentos silenciosos.
Preparei-me para aquele pedacinho de azul que eu tanto queria.
A tarde foi quente...
Cingida pelo meu kimono, senti-me sufocar com a ansiedade apertada e o coração inquieto. Só as borboletas no meu estômago estavam à vontade.
Os rituais tradicionais, a meditação e quase se fez silêncio.
O som das ventoinhas, distraiu-me.
Visualizei-as a rodopiarem naquele tecto com barrotes de madeira escura. Interiorizei o dojo. Senti os meus colegas, a Sensei ... a energia.
Respiração profunda. Acalmei.
Revi as técnicas. Pedi ao universo para me dar força e concentração.
E fez-se a viagem, RUMO AO AZUL.
Até ao limite das minhas forças, fui guerreira.
Não fui perfeita porque não sou samurai.
Fui eu... e o meu céu ganhou o AZUL!


(Fotografia:F.Pinto)



Com carinho
MZ

terça-feira, 22 de junho de 2010

A Busca


Sou eu que o vejo assim...

Talvez se sinta um nómada em busca de algo que sente não ter ainda.
Gosto de pensar que a procura incessantemente terminar  com uma 'vida errante'.
Pertence a todo o lado e a lado nenhum.
Tanto é verde e fresco plantado em socalcos, como seara em planície alentejana.
Adora o mundo e todas as suas gentes.
Entrega-se às pessoas e as pessoas são também o seu mundo.
Se pudesse, abraçava-as com todo o seu sorriso e os seus braços seriam mar para se sentir mais próximo de todos.
Quer o mundo, mas quer um lar...
Divide-se e talvez se sinta confuso. Tem de escolher.
Precisa desesperadamente de todos os afectos. Vindas daqui, as palavras menos boas não o desequilibram.
Guardou a mochila quando encontrou o amor. Sabe que existe magia, mas descobriu que não existem fadas.

Pára e assenta ou continua desesperadamente uma busca incessante?
Sou eu que o vejo assim...





fotografia:Júlio Lemos(Samy)

Com carinho
MZ

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Não desisto!


Os meus pulsos estão frágeis...
Mas a minha vontade tem de ser forte!
Algumas marcas de dor...
São as flores da existência do EU.
Da luta pela vida,
da descoberta de um destino com uma via e um propósito.
Mesmo assim, ando de saltos altos e faço pose.
Não desisto!
Mantenho o meu espírito de ‘Geisha’ e ‘Samurai’
Feminina e doce
Rebelde e guerreira
No dojo,*
desenlaço as pulseiras e aperto as ligaduras,
treino sempre que posso.
Não desisto!

Eu sou o aço e o coração.
O meu sabre,
no corpo do adversário ou na seda que visto!
Não... não tenho sabre...
A minha arma é o meu querer e a minha vontade no dojo* e na vida
Não me digam que assumo uma postura de derrota quando o que eu quero aprender primeiro é a lógica...
Humildade, não é fazer de conta que se sabe, é acima de tudo QUERER APRENDER mesmo que se leve mais tempo!

Eu chego lá...
Não desisto!


*lugar de treino






(Imagem: Google
Com carinho
MZ

sábado, 12 de junho de 2010

Uma luz no olhar...


O dia já vai alto lá no largo.
Levantam-se os velhos dos bancos e espreitam a capela.
Cheira a flores e a suor.
Brilha o Santo de nome António, rosto corado, quiçá envergonhado...
Tantas raparigas para uma imagem tosca de calcário!
Teimosas, afogueadas, de peitos empinados, as mordomas que são solteiras, continuam a dar-lhe lustro. Esquecem-se todos os anos que ele já fora homem um dia...
Empoleiram-no no andor, enfeitam-no de flores e feto-real.
Está pronto, amanhã vai arejar!
Rejubila uma vez por ano, para depois voltar de novo à clausura.
É tempo de festa na aldeia...
Os velhos falam de reumático, de procissões e acendem uma luz no olhar.






Fotografia de: Jfifas

Com carinho
MZ

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Segredo...

Gosto de ti.

Deveria guardar esta frase simples e o resto das palavras que aqui vou deixar. Deveria guardar tudo numa gaveta juntamente com toda a minha lista de desejos proibidos. Fechá-la à chave e de seguida atirá-la ao mar.
Mas, depois, que teria para partilhar com vocês este mês?
Na gaveta guardei apenas a aliança...
Assim, atrevo-me a deixar-vos com as campaínhas todas a tilintar.
E depois atirem a primeira pedra!

O meu espírito é livre. Basta pensar...
São raros os dias, mas, sempre que vens ao encontro do meu pensamento, assinalo-te com flores na minha agenda.
Tu não sabes. Ninguém sabe. É um segredo meu.
Fazes parte da lista de desejos proibidos.
Gosto de ti. Com ingenuidade e com lascívia.
Gosto de ti para além de todos os prazeres carnais, mesmo distante do corpo e do desejo e da troca de beijos em que nos poderíamos tornar nascentes.
Gosto de ti ao ponto de pecar em pensamento. E peco ainda mais porque, não tenho dúvida de como seria fácil de pecar em actos.
Há alturas em que o desejo se manifesta numa espécie de gemido, P-E-C-A-D-O-R-A

Gosto de ti.
Raros são os dias em que te tenho no meu pensamento. Mesmo assim, não sei se és real ou apenas existes para eu me penitenciar.



Escrito a pensar no tema  “Gosto de...” (Fábrica de Letras) que foi ultrapassado pelo “Estava vazio...” como não o posso publicar lá, partilho-o aqui só com vocês.



(Fotografia:APereira)


Com carinho
MZ

terça-feira, 1 de junho de 2010

Surreal...


Deveria doer-me a cervical de tanto olhar para o ar, mas na verdade, o que me doía era uma vontade enorme de querer estar suspensa num espaço azul que eu não conseguia identificar se era de céu ou de outra fonte fantástica proveniente do meu subconsciente

O mundo estava vazio...

Na Terra, só eu e um intenso e estranho sonho.
Homens e mulheres vestidos a rigor pairavam no ar e formavam figuras geométricas perfeitas.
Olhavam-me através de uns óculos enormes e protectores. Não havia vento, mas, os cabelos arrepiavam e assanhavam-se conforme o movimento do meu olhar.

Como em todos os sonhos estranhos, algo não batia certo. E naquela espécie de voo livre, aqueles homens e mulheres mantinham os seus fatos impecavelmente engomados.

O azul era apelativo e tudo parecia tão calmo e ordenado!

De tanto querer estar suspensa naquele azul forte e harmonioso, de repente vi-me lá em cima com eles.
Mas, quando o meu sonho me projectou para aquele lugar, reparei que nada era o que eu tinha visto. Não havia azul, nem céu, nem harmonia, nem fatos engomados nem figuras geométricas perfeitas.

Estava encurralada num verdadeiro labirinto de quartos e mais quartos sem janelas e sem portas.

Os mesmos homens e mulheres viviam numa verdadeira desordem e repetiam-se em cada lugar. Não pairavam no azul, mas permaneciam deitados no chão completamente vestidos e os seus fatos entesados pela goma, não passavam agora de um molho de trapos sujos e amarfanhados.

Encontrava-me assim, num espaço caótico e imundo.

Uma visão completamente surreal onde santolas coradas acabadas de cozer e com um aspecto delicioso se misturavam com objectos que eu via, mas que nunca conseguiria descrever. Tudo se espalhava pelo chão  fazendo companhia aqueles corpos andrajosos e paralisados.

Não havia vozes nem qualquer outro som.
Eu só queria o azul... queria sobretudo voar!
Agora, só queria voltar de novo ao meu lugar.
Batia-me o coração descompassadamente, o suor escorria-me e as forças começavam faltar-me.
Onde estava eu?
Descobri que me agarrava desesperadamente a um muro fino e frágil e as minhas pernas estavam suspensas num chão sem fundo.
Foi então que uma voz sem rosto e sem corpo veio ao meu encontro e disse-me suavemente:

-Deixa-te cair... estás a centímetros do chão.

Acordei.





Para a  Fábrica de Letras  com o tema – “Estava Vazio” este Mês de Junho.

Imagem:daqui





Com carinho
MZ