Longe da terra estrumada e revirada. Longe das hortas, dos vasos de barro vermelho, dos hábitos simples e rotineiros da aldeia quedo-me nostálgica. Nostálgica e inquieta quando certos nomes ficam debaixo da língua e não saem quando quero. Da terra, as plantas e principalmente as flores.
E, se me lembro, eram, e ainda são tantas as variedades trocadas entre amigas e vizinhas que os jardins tornaram-se vaidosos e as donas orgulhosas. Anos de abundância em que as flores também têm um lugar de destaque na sociedade. As flores tornaram-se sinal de um tempo farto, de um tempo sem fronteiras e de crescimento económico. Foram anos esplendorosos de novidades num país esperançoso.
Longe estão os tempos em que havia uma Primavera só de malmequeres brancos e amarelos, de cravos e cravetas, das primeiras pétalas de rosa para as noivas de Maio e dos varões de S. José para as primeiras comunhões. No Verão, as hortenses, dálias, camélias, gladíolos, zínias e a estranhas flores de papel tão coloridas e de cheiro seco e indefinido.
Sempre as mesmas flores, sempre as mesmas sementes...
O Outono, com os velhos crisântemos da época, símbolo de saudade e ainda as últimas rosas à espera que o vento as desfolhasse. E, pobre era o Inverno de cândidos e envergonhados jarros brancos escondendo as fálicas saliências amarelas. O antigo espargo entrelaçado e preso em redes especiais permaneciam mais verdes que em todas as estações. Do interior das casas, espreitavam às janelas vasos fartos de finas e rendilhadas avencas.
Era assim noutros tempos.
Sempre as mesmas flores, sempre as mesmas sementes, e destas eu não irei esquecer, nunca!
(imagem:google)
Com carinho
Mz