sábado, 7 de janeiro de 2017

Caminho de folhas mortas





O caminho já não é de terra, mas as árvores continuam lá, agora despidas, porque é inverno. A cada passo, ora enlodam, ora estalam as folhas porque de um lado faz sombra e, do outro sol. Tudo belo, se estivermos atentos. Beleza envelhecida da natureza, onde a morte se transforma em coisa bonita, ainda que esborrachada no chão. Sabemos que haverá sempre algo que brotará viva entre as emendas da calçada. Mas como é feio morrer quando se é pessoa… O corpo apodrece sem utilidade alguma, ou queima-se, continuando a não ter utilidade alguma. E nos passos que dou, lembro-me que em Dezembro fomos levar cravos vermelhos ao pai. É uma coisa sem sentido oferecer cravos a um morto, mas é tão grande esta nossa teimosia de prolongar a vida depois da morte, que fica coerente fazê-lo. Depois, virá Abril e, levaremos flores indiferenciadas à mana, porque não nos recordamos da sua flor preferida. Em Maio, levaremos rosas brancas para a mãe e, repetir-se-á o ciclo das datas especiais, destes que, suportam o mármore branco. Mortos. Creio ser coisa que nos apazigua a saudade e, as flores serão sempre para nós.
Choram-me os olhos da frieza da manhã, os dedos, por entre os fios de cabelo, arrepia-me a nuca e, este gesto banal liberta-me o rosto. A aragem sabe-me bem neste caminho de folhas mortas.



Texto e fotografia
Mz