Quando disse às minhas tias da aldeia que as iria levar ao
teatro, era outono e já está quase a fazer um ano. Uma semana antes, já andavam
num frenesim de contentamento e em dois dias, meia aldeia já sabia da nossa ida à cidade.
Depois, as grandes preocupações eram se hoje, as idas ao teatro exigiam
toilette como quando foram todas juntas com os tios ao casino Estoril ver um espectáculo
do La Féria e ficaram num hotel de cinco estrelas. Tudo muito chique e muitos
brilhos. Sempre a lembrarem-me de que quanto mais velhotas, mais bem arranjadas
devem estar. Eu sosseguei-as dizendo-lhes que poderiam vestir-se como quando
vão à missa. A vivacidade dos olhos ficaram a desmaiar e os sorrisos
apagaram-se com os cantos da boca a tornarem-se ainda mais flácidos - ok… um
bocadinho mais caprichado - emendei a correr muito. Depois, foi vê-las felizes de
cabelos de “mise en plis” e maquilhagem a preceito. Uma alegria avistá-las de
malinhas de mão a abanarem ao ritmo de passinhos pequeninos nos sapatos novos
de salto médio e os casacos compridos a esconderem os vestidos de caxemira que
foram comprar a propósito.
mz
imagem andrey Gordeev
jovem ilustrador russo
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