domingo, 10 de abril de 2016

E se fosse eu?





Se fosse eu, uma refugiada?
Se tivesse de fazer a minha mochila, de certeza que não a faria com sentimentos poéticos como alguém disse por aí que, levaria lá dentro apenas toda a saudade. Saudade? Na guerra não se pensa na saudade desta forma. A saudade é, para depois.



Na minha mochila levaria alerta e sobrevivência. Agradeceria o bom censo quando, num momento de caos ao abrir a minha mochila, observar que tive o sangue frio de lá colocar qualquer coisa que me aqueça, me encha o estômago, me mate a sede e me limpe dos suores frios do medo e da terra chão que supostamente me serviria de cama. Para além da identificação, o telemóvel e o carregador. O meu disco externo que é leve e pequeno, um livro, um bloco virgem, vários lápis de carvão e um canivete suíço. O dinheiro em notas pequenas. E sem pudor digo: levaria as minhas jóias cozidas nas bainhas internas da minha roupa. Em sobrevivência é preciso também ter moeda de troca, ser calculista. E tenho a certeza que no horror da fuga, a poesia até poderia estar na chave da minha casa supostamente já em ruínas onde estaria também, toda a saudade.


mz




fotografia da minha autoria



 “E se fosse eu?” 
É uma campanha inspirada no projeto “What’s In My Bag?”, desenvolvido pelo International Rescue Comitee e pelo fotógrafo Tyler Jump, que fotografou um grupo de refugiados que chegou à ilha de Lesbos, que mostrou o que levavam nas suas mochilas quando tiveram de fugir.