terça-feira, 1 de novembro de 2011

Muros Brancos...


Tecida de grãos que cobrem os falecidos, é a manta cor de terra, se ainda houver cadáver.Não há sol. Não há chama tremeluzente que aqueça os corpos, nem as almas neste sempre místico dia dos mortos.

Como se estivessem encostadas aos muros brancos, colam-se as sombras das mulheres vestidas de escuro. Mulheres doídas. Mulheres de coração negro como as sombras da parede branca. São rectas paralelas  as sombras e os corpos vivos e os que já se foram, porque jamais se encontrarão. O infinito passa-lhes ao lado de invernosos pensamentos. O tempo mistura-se em cada folha que se junta a um turbilhão de mil folhas caducas enrolando-se em espirais que se atropelam com imagens de quem já se foi. O vento e a chuva, se aparecem, aumentam ainda mais as perdas e, no rosto das mulheres vestidas de escuro, vincam-se mais e mais as rugas da tristeza. 

E volto às sombras do muro branco que também eclipsam a cor das flores que as mulheres levam aos seus homens frios. Volto a esse muro de paredes brancas e às mulheres que o olham, tornando-os em espelhos baços escondendo realidades de noites inquietas, solitárias e mal dormidas.






imagem: pesquisa Google
(estátuas em cemitérios)
 
 
Com carinho
Mz

14 comentários:

Anónimo disse...

Frase batida: ninguém está preparado para a morte.
Quando ela leva um próximo:
marido (Elas vão regularmente ao cemitério)
mulher (Eles vão muito menos))
irmão/irmã (O outro vai deixando de ir)
Etc.

A atrocidade da morte reside
- No tempo que ocorre (È sempre cedo...)
- No sofrimento que impõe;
- Na tristeza que desencadeia
- No desamparo que provoca.

Acho muito feliz a ideia de paralelas que introduziste para situar quem fica e quem parte; como a a parede branca e a sombra.
Excelentes.
Mas como na maioria dos casos é hiante, eu atrevo-me a acrescentar que as tuas paralelas são assimétricas.

Bjs

Lilá(s) disse...

Efeitos secundários do dia das bruxas á mistura com o 1º de novembro, só pode!...
Bjs

Rafeiro Perfumado disse...

Como se fosse possível existirem muros brancos, apareciam logo uns vândalos para fazerem graffitis!

João Roque disse...

Prefiro recordar neste dia a vida da minha Mãe (seu aniversário), do que a saudade dos que já partiram, essa recordo-a dia a dia...

mz disse...

JPD,
também gostei do esquema que utilizou para sintetizar os comportamentos perante situações de perda.

Obrigada
Bjs

mz disse...

Lilá(s)
sentiste o frio?
:)

Bjs

mz disse...

RAfeiro Perfumado,
olha... também concordo!

mz disse...

Pinguim,
festejar a vida e recordar os que já se foram, faz parte dos rituais.

Johnny disse...

Ia dizer: "Mas só eles é que morrem?"
Mas depois vi aquela síntese ali no início e faz sentido... "só elas é que vão"

mz disse...

Johnny,
não devemos generalizar, mas é um facto que as mulheres cultivam mais este rituais e para além disso, as estatísticas dizem que eles morrem primeiro.
Voilá!

By Me disse...

A morte dos ouros choca-nos porque confrontamo-nos com a nossa própria morte e esse terrível mistério aterroriza... Adorei a foto, altamente expressiva!!! Beijo

mz disse...

Pedrasnuas,
sim...também passa por aí!

Bjs

Brown Eyes disse...

Mete-me medo a morte dos outros, a minha não, é natural. Inclusive a dos animais choca-me. Beijinhos

mz disse...

Brown Eyes,
principalmente as dolorosas e trágicas...

Bjnhs