Sabiam que para eles não iria haver domingo possível para jurarem amor eterno no altar da “sua” Igreja.
Nunca iria haver domingo com chuva de rosas desfolhadas...
Nunca iria haver domingo com chuva de rosas desfolhadas...
Ela iria herdar em breve, pela morte de sua mãe valiosos terrenos, alqueires de milho, pipas de vinho e arrozais. Ele, para além da sua inteligência e perspicácia para o negócio não possuía mais nada.
Era uma época de mentalidades quadradas e de imposições familiares sem contestações.
Era uma época de mentalidades quadradas e de imposições familiares sem contestações.
Os lavradores, olhavam a terra como ouro e viam no amor um sentimento demasiado luxuoso para partilhar com um Zé-ninguém. Quando assim se pensava, as aldeias possuíam não só casebres de terra batida, caminhos de pó e lama, mãos calejadas, pés descalços e fome. Quando assim se pensava, praticava-se também de certa forma alguma pobreza de valores e, a palavra preconceito, não existia num vocabulário onde o analfabetismo começava aos poucos a incomodar quem queria mais da vida.
Maria Rosa sabia que o pai nunca a deixaria levar avante esse casamento de desigualdades. Mas o que seria do mundo sem o amor, sem a coragem e sem os desafios?
De saia plissada e blusa branca de cambraia, cabelo entrelaçado numa generosa trança, rosto limpo e os olhos mais brilhantes que alguma vez possuíra, desceu ao largo da aldeia ansiosa e decidida. Não teriam um domingo mas, uma madrugada de sábado com a cumplicidade do padre-cura e do sacristão. Assim, enquanto toda a aldeia acordava, os sinos tocavam em sintonia. E, naquela manhã de Setembro tornaram-se marido e mulher aos olhos de Deus conforme mandava a lei da Santa Madre Igreja. Casaram em segredo e, ninguém jamais, poderia separar o que Deus uniu.
Subiram a ladeira da aldeia de braço dado. Ela, sem vestido de noiva ou flores de laranjeira. Ele, com a sua dignidade. Juntos pela primeira vez, tomaram o café aguado feito nas brasas do fogareiro de ferro e trocaram dentadinhas de pão de centeio aquecido no braseiro da fogueira matinal. Almoçaram sardinha assada e ainda hoje, passados cinquenta anos, recordam o dia mais maravilhoso que tiveram antes de nascer o primeiro filho.
Fotografia: jfifas
Com carinho
Mz
23 comentários:
E que se f...!
Lindo!
Como aliás é normal nos teus textos, principalmente nas tuas colaborações com a Fábrica das Letras.
Bom texto.
Preconceito é também as pessoas acharem que para serem felizes têm que se casar.
O amor vence todos os preconceitos. Infelizmente, ainda há quem pense dessa forma quadrada...
Beijinhos
Muito bonito... quase que deu vontade de estar a ler isto na primeira página de um livro, porque seria uma linda história, decerto!
Johnny;
não quero que traduzas mas que desenvolvas.
Pinguim;
é sempre muito gentil e simpático.
Muito obrigada!
El Matador;
também é verdade, mas à cinquenta anos atrás os casamento era importante na nossa sociedade.
Tulipa Negra;
aqui o amor venceu o preconceito do chamado "Zé-ninguém".
Beijinhos
B;
esta é uma linda história de amor verdadeira.
Obrigada.
Emocionante história que mostra o quanto preconceitos nada valem...No caso, importava o amor!LINDA! abraços,chica
Chica;
Portugal e o mundo está cheio de histórias parecidas onde jovens socialmente abastadas(os) lhes era impedido a realização de uma união por amor devido a este preconceito.
Abraços!
HÁ HISTÓRIAS DE AMOR QUE RESISTEM A TODAS AS INTEMPÉRIES...ESSA FOI MAIS UMA...
GOSTEI MUITO MZ!!! HISTÓRIAS DE OUTROS TEMPOS...EM QUE A PALAVRA DIVÓRCIO NEM ERA IMAGINADA...
BEIJINHO E UM ANO MUITO BOM!!!
Quando a gente quer...
Cadinho RoCo
Pedrasnuas;
nas aldeias nesse tempo não se colocava sequer a hipótese de um divórcio era mais um preconceito.
Um Bom Ano também para ti...
beijinhos
Cadinho Roco;
quando se quer e se tem coragem!
Muito bonita esta história. :)
São vidas Luísa!
Obrigada.
Um preconceito que não foi levado a sério e que acabou de forma magnífica. Adorei tudo, Parabéns pela excelente participação.
beijinhos
Fê-blue bird;
sim... a Maria Rosa foi muito corajosa e teve muita sorte!
beijinhos
Excelente texto!
Rita Norte;
obrigada.
Amiga, disseste com clareza: o amor supera todo o tipo de preconceito!
Parabéns pela belíssima participação e inspiração!
Abraços renovados!
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