Dei corda ao tempo, mas ele teimosamente andou para trás...
Atrás dele, voltaram as tardes de Verão em que me espreguicei na minha ingénua adolescência.
Tardes longas de um Verão quase interminável...
Sestas silenciosas numa aldeia de quietude onde nem os pássaros se atreviam a cantar.
Em casa da avó era o tic- tac do relógio de corda,
o ronronar preguiçoso da gata
ou o cacarejar quase mudo das galinhas.
Lá fora, talvez o zumbido amarelo de uma abelha...
Só mesmo a asquerosa varejeira, conseguia estragar aquele silêncio lânguido
fazendo com que alguém se movesse para a poder espalmar.
Havia sestas que eram trocadas pelo sonhar de amores e desamores
vividos por personagens fictícias de uma radionovela ou da leitura de um clássico.
Eram tardes silenciosas em que a máquina de costura ou a conversa das tias
se misturavam com pontos de crochet e limonada fresca.
Por vezes, ao longe, um cantar desafinado de uma cantiga popular
que contrastava com o preto das roupas das mulheres mais velhas
que sentadas à soleira das portas, as entoavam enquanto remendavam
um ou outro par de meias.
Foram tantas tardes silenciosas com os cheiros da fruta madura,
do milho estendido a esturricar na eira,
e da roupa a corar ao sol!...
Aromas secos e cores quentes que se fundiam com a quietude da aldeia e das minhas preguiçosas tardes de Verão.
Há dias em que o relógio volta a trás e teima em trazer lembranças especiais...
(imagem:google)
"QUIETUDE" é uma repostagem do mês de Agosto de 2009 que quero partilhar pois enquadra-se no tema.
Mais tarde publicarei uma postagem em que o silêncio será bem inqueto.
Até lá...
Com carinho
MZ
39 comentários:
Adoro o que escreves. Transmites muitas vezes o que penso o que sou incapaz de colocar no papel.
Já pensaste em publicar os teus pensamentos? Bjs
É o primeiro texto que leio do novo tema da "Fábrica de Letras", que não é fácil, devo dizer-te; mas está aqui muito bem retratado, em pinceladas do passado, sim senhora...
Há dias assim, em que a quietude que a quietude nos cai bem.
Acho que estive lá! :o
Aliás... até experimentei uma certa sonolência mágica que acho só ter sentido na infância. ;)
*
Sara,
nem sempre consigo...
Bjs
Bem bonito. S´+o por causa do milho, já vejo que não é o Alentwejo, mas tudo o mais se assemelha às minhas tardes de adolescente, em quie o tempo anda devagar e o calor da minha terra ajuda a estender os dias.
Beijihos
Mz tardes silenciosas a que tu das muito valor, tanto como o que tem este post. Um beijinho grande. Ficamos à espera do post onde o silêncio será inquieto.
Beijinho grande
É como diz a Sara, transmites muitas vezes o que penso. Estas tardes silenciosas e solarengas, podiam ser as minhas tardes, num Monte alentejano quando tinha 16 anos. Foi bom recordá-las através das tuas palavras. Obrigada!
Beijinhos :)
PS: Deixei um miminho para ti lá nas ´Planícies'
Muito bem escrita esta prosa poética!Este cenário é familiar à minha pessoa! Gostei mesmo!
Que bom que o relógio voltou atrás, assim trouxe para nós estas recordações maravilhosas.
Bjs
Adoro tudo o que escreves... :)Tal como a gingerbread girl, também me deu sono, eu já estava naquela sesta de Verão... inundada pelos aromas e serenidade da quietude... zzzzzzzzzz Beijinho
QUE COISA LINDA.DEU PRA ENTRAR NO CENÁRIO...BEIJOS,CHICA
Pinguim;
são boas recordações, garanto-lhe...
muito obrigada!
Johnny;
por vezes bem precisamos de dias assim... mas agora está mais na moda os spas, verdade?
:)
Gingerbread Girl;
viajaste no tempo, a sério?
:)
MeldeVespas;
houve tempos em que o alenjejo foi o celeiro de Portugal... mas este milho é das Beiras.
Beijinhos
Brown Eyes;
será inquieto, prometo!
beijinhos
Helga;
é a magia da blogosfera e da partilha de pensamentos.
beijinhos
Juana;
é bom saber que se identificam com o que escrevi e principalmente que consegui expressar bem o lugar que me rodeava na hora da sesta.
Muito obrigada.
Lilá(s);
se existem coisas que eu gosto de partilhar, são os momentos da minha infância... recordo-a sempre com uma certa magia...
bjos
Eva G.
soninho...será que a Eva adormeceu?
Chiu!
beijinho :)
Chica;
sempre que queiras entra e sobe ao palco!
beijos :)
venho aqui devagarinho para não acordar a Eva... Este teu texto está - como dizer? - aconchegante... só apetece chegar, encostar e xonar! Ai que saudades do tempo em que tínhamos tempo para o fazer...!
beijinho**
=) muito bonito, é bom recordar*
Lala;
não faças barulho, Lala, chiu!...
Deixa-a dormir...:)
Saudades desse tempo, principalmente do calorzinho.
beijinho
Sandra;
vou visitar, sim...
até lá!
Mto obg
Por entre o Luar;
recordar e partilhar, seja ao luar ou noutras alturas do dia...
:)
Um SPA? Por acaso....................
MZ, que nostalgia. Lembraste-me tardes na aldeia da minha avó.
Ainda hoje, no trabalho, ouvi uma senhora idosa a cantar músicas populares... talvez hoje também eu estarei nostálgico.
Bj
Um silêncio cheio de pequenos ruídos, como só se experimenta nas tardes quentes da aldeia. Também passei férias, muitas vezes, numa aldeia da Beira, fez-me recordar.
Bjs
Johnny;
são modas... então agora todos acham que sossego e calma só se encontram num belo SPA...
Catsone;
esta é uma tarde na aldeia, uns anos atrás... Eu não me importo de ser nostalgica de vez enquando, não me importo mesmo nada!
Bjo
Teresa;
na aldeia o silêncio passa por tantos sons... igual ao teu faroleiro, com todo aquele mar em movimento, com todas as aves marinhas.
Bjs
MUITO LINDO O TEU TEXTO,RICO EM IMAGENS QUE NOS TRANSPORTAM PARA ESSE TEMPO...COMO SE TAMBÉM ELE FOSSE MEU...APRECIEI E RESPIREI ESSA MAGNÍFICA QUIETUDE...
BJS
Ah! como é bom quando o relógio volta e trás tantas lembranças silenciosas e povoadas de vida... Adorei, Eliete
Pedrasnuas,
é para partilhar, considera-o teu também.
bjs
girodeideias,
é bom... eu gosto por isso escrevo sobre as minhas lembranças.
muito obrigada
Olá, escrita deliciosa como tu és. Retratas exactamente aquilo que eu também sinto em dias de nostalgia. E como o meldevespas comenta, só pode ser uma tarde de verão das beiras, sim é verdade porque as reconheço como minhas na minha infância e adolescência. Só quem as viveu percebe esta quietude erótica do espaço e do tempo.
Faltaram só as badaladas do sino da Igreja.
Obrigada por me teres feito recordar este espaço e outros!!!
Continua, por favor
Inês,
eu é que agradeço.
Obrigada.
Revi-me nas tardes em casa da minha avó. Eram igualinhas a estas, numa aldeia, no campo e o silêncio do campo é tão diferente do da cidade.
Adorei esta viagem a passado. Obrigada.
Na aldeia do silêncio a quietude dos aromas, dos sons das gentes, bem que podiamos viver todos na tua aldeia..
Bjo*
Natália Augusto;
então benvinda à máquina do tempo... (estou a brincar)
Ainda bem que gostou Natália.
Eu é que agradeço.
Melga;
hoje a maior parte das aldeias portuguesas já não nos oferecem esta quietude nem este cariz rural. Perdeu-se quase por completo... já quase não se criam galinhas em casa, as eiras foram substituídas por garagem de automóveis, enfim... o som desta quietude rural foi substituído por outros sons embora ainda existam os passarinhos, as abelhas, as varejeiras... AS MELGAS :)
Bjo
Obrigada.
BEIJINHOS AINDA RESPIRANDO QUIETUDE...
Gostei muito, é o silêncio do campo e de tudo o que o rodeia. Ainda consigo sentir algumas emoções dessas quando vou à casa da minha mãe que mora numa aldeia junto ao Cabo Sardão. Os meus filhos adoram. É o silêncio que nos deixa calmos e tranquilos. Parabéns.
Olga,
é bom saber isso...
muito obrigada por me ler.
boas lembranças que deram um bom texto.
El Matador;
eu adoro recordar estes tempos...agora que já sou adulta, muitooooooooooo adulta!
Adoro e é como se viajasse no tempo.
obg
Enviar um comentário