Tecida de grãos que cobrem os falecidos, é a manta cor de terra, se ainda houver cadáver.Não há sol. Não há chama tremeluzente que aqueça os corpos, nem as almas neste sempre místico dia dos mortos.
Como se estivessem encostadas aos muros brancos, colam-se as sombras das mulheres vestidas de escuro. Mulheres doídas. Mulheres de coração negro como as sombras da parede branca. São rectas paralelas as sombras e os corpos vivos e os que já se foram, porque jamais se encontrarão. O infinito passa-lhes ao lado de invernosos pensamentos. O tempo mistura-se em cada folha que se junta a um turbilhão de mil folhas caducas enrolando-se em espirais que se atropelam com imagens de quem já se foi. O vento e a chuva, se aparecem, aumentam ainda mais as perdas e, no rosto das mulheres vestidas de escuro, vincam-se mais e mais as rugas da tristeza.
E volto às sombras do muro branco que também eclipsam a cor das flores que as mulheres levam aos seus homens frios. Volto a esse muro de paredes brancas e às mulheres que o olham, tornando-os em espelhos baços escondendo realidades de noites inquietas, solitárias e mal dormidas.
imagem: pesquisa Google
(estátuas em cemitérios)
Com carinho
Mz
14 comentários:
Frase batida: ninguém está preparado para a morte.
Quando ela leva um próximo:
marido (Elas vão regularmente ao cemitério)
mulher (Eles vão muito menos))
irmão/irmã (O outro vai deixando de ir)
Etc.
A atrocidade da morte reside
- No tempo que ocorre (È sempre cedo...)
- No sofrimento que impõe;
- Na tristeza que desencadeia
- No desamparo que provoca.
Acho muito feliz a ideia de paralelas que introduziste para situar quem fica e quem parte; como a a parede branca e a sombra.
Excelentes.
Mas como na maioria dos casos é hiante, eu atrevo-me a acrescentar que as tuas paralelas são assimétricas.
Bjs
Efeitos secundários do dia das bruxas á mistura com o 1º de novembro, só pode!...
Bjs
Como se fosse possível existirem muros brancos, apareciam logo uns vândalos para fazerem graffitis!
Prefiro recordar neste dia a vida da minha Mãe (seu aniversário), do que a saudade dos que já partiram, essa recordo-a dia a dia...
JPD,
também gostei do esquema que utilizou para sintetizar os comportamentos perante situações de perda.
Obrigada
Bjs
Lilá(s)
sentiste o frio?
:)
Bjs
RAfeiro Perfumado,
olha... também concordo!
Pinguim,
festejar a vida e recordar os que já se foram, faz parte dos rituais.
Ia dizer: "Mas só eles é que morrem?"
Mas depois vi aquela síntese ali no início e faz sentido... "só elas é que vão"
Johnny,
não devemos generalizar, mas é um facto que as mulheres cultivam mais este rituais e para além disso, as estatísticas dizem que eles morrem primeiro.
Voilá!
A morte dos ouros choca-nos porque confrontamo-nos com a nossa própria morte e esse terrível mistério aterroriza... Adorei a foto, altamente expressiva!!! Beijo
Pedrasnuas,
sim...também passa por aí!
Bjs
Mete-me medo a morte dos outros, a minha não, é natural. Inclusive a dos animais choca-me. Beijinhos
Brown Eyes,
principalmente as dolorosas e trágicas...
Bjnhs
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