terça-feira, 26 de junho de 2012

CR7


Ainda do mesmo. Futebol. CR7

A distância e a privação familiar na vida de uma criança é uma carência cruel quando se precisa de mimo. Chegar à noite sem um beijo de mãe ou um afago de pai, são noites frias, não duvido, ainda que o calor desidrate o corpo. Máxima disciplina e um pouco entregue a si próprio, sob a tutela de um clube, apostaram e ele ganhou. Esforço e dedidcação, talento. Hoje é um símbolo português no mundo. Tem a família como o seu porto de abrigo, e eu louvo-lhe o espírito familiar. O menino já é homem e se existem espelhos, ele é um dos que merecem ver-se em todos eles [humildade fica bem, mas, exagerada transforma-se na pior das vaidades disse-me sempre  minha mãe]. Pois que tenha vaidade pelo que é, a mim não me afecta nada.
E, aqueles a quem o futebol até lhes trás alguma alegria, aqueles que até podem não ter cheta e beber minis geladas com um cachecol de lã enrolado ao pescoço, pois que o façam. Ainda que amanhã se acabe a festa, ainda que no bolso lhes restem apenas alguns euros até ao final do mês, estes portugueses, jamais iriam para a porta de um adversário gritar por um nome estrangeiro, como fizeram hoje algumas dezenas de espanhóis ao gritarem por um argentino que não lhes pertence.Estiveram mal.
CR7, terá sempre uma madrasta à esquina. 


imagem: Google

Mz

terça-feira, 19 de junho de 2012

Futebol e a nossa Selecção!



Não sou muito fã de bola nem da disparidade de todo aquele mundo faustoso em relação a outros atletas de alta competição. Estou a falar como é óbvio, de um grupo restrito de jogadores de grandes clubes com contratos milionários. Atletas de alta competição, recompensados pela sua qualidade, performance e rendimento. Fazem mover milhões, fazem ganhar milhões e ganham milhões. Talento, e muito, mas muito trabalho e não sorte ao euro milhões. Jovens demais com altos salários, facilmente manipulados por um orbe de marcas de luxo. Sonhos tornados realidades, quem não quer?
Acima de tudo, devemos enaltecer o profissionalismo, a atitude e a garra por aquilo que sabem fazer bem. Posto isto, todos temos visões diferentes a respeito deste grupo restrito de atletas de gostos caros. São muitas as opiniões, mas negar a evidência de homens que são autênticos portentos de profissionalismo reconhecido no mundo inteiro, é negar apenas a evidência. Não porque não! Quem a nega, vira-se apenas para os acessórios, esquecendo que até o melhor entre os melhores do mundo, pode falhar. Perdoa-se apenas quem queremos, porque o ser humano apenas vê o que lhe interessa, o resto, ao mínimo erro, soltam-se os cães.

imagem: GALERIA Umberto Boccioni
(Pintor e Escultor Italiano)
Mz

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O povo elege.



Eu sou povo e acho que o povo gosta é de Santos que se aproximem mais da terra. Daqueles que sabem o que um homem e uma mulher querem para a vida. Saúde. Um namoro abençoado. Um casamento. Nem que se confunda fé com a busca incessante de êxitos numa base de ideais.

Varandas de colchas à mostra, ruas atapetadas, juncos do campo e o cheiro a erva-doce a subir pelo ar quanto mais pisadas são. Os passos, continuaram ao compasso solene da reza e da banda em gloriosas procissões. E o Santo António, um pouco tosco de menino ao colo, lá vai saindo à rua uma vez todos os anos. Existe o outro, o Padroeiro, com uma igreja de retábulo e tecto de uma agradável riqueza barroca que também vai na procissão, mas não é proclamado favorito. Este, é um santo de Inverno e, nesta estação, há demasiado frio para dançar no largo. Os arraiais não querem chuva e os anjinhos não se podem constipar nem molhar as suas asas penacheiras.

Tal como os homens emergem na sociedade, na vida comum como na fé, também os Santos se destacam abafando outros Santos. Promessas. E o povo elegeu o Santo António. Este, sem saber, lá foi tirando protagonismo ao outro santo. Levei tempo a entender que também assim se endeusa quem o povo quer.
Mz

Tela de Armanda Passos
Pintora portuguesa
aqui

domingo, 3 de junho de 2012

Era uma vez...


Já fui criança e já fui mãe. Muitas histórias infantis leram os meus olhos e foram ditadas pela minha voz. Repetidamente.
- Era uma vez uma princesa...
- Era uma vez um rei...
Histórias na perfeição de um modelo ilusório com personagens belas, más e feias à mistura a encaixarem numa magia que se quer ingenuamente perfeita. Adormecem-se as crianças formatadas neste sonho. Pela  manhã, todas as meninas querem ser princesas e todos os meninos querem uma espada. E vão sonhando e brincando com reinos perfeitos. Depois, é um crescer natural e um despertar óbvio para a vida. E chega o dia que se quebra o encanto. Continuam os reis e as princesas numa outra realidade. Num desfile de vaidades apresentam-se realidades e factos. A perfeição é uma fachada de histórias e escândalos abafados. Actos contínuos de acções interditas e casos obscuros. Mentiras e festas sumptuosas. Gaste-se e encante-se com protocolos inúteis. Ainda assim, as mulheres republicanas e cientes da realidade continuam a sonhar com príncipes perfeitos e, os reis a sonhar com plebeias generosas. Como a imperfeição é ávida de ilusões...




Imagem: desenho de Almada Negreiros

Escrito para Fábrica de Letras
Tema: Perfeição


Original escrito e publicado...
Mz