terça-feira, 7 de julho de 2009

Aldeia...


Sempre dividida deixo o meu mar...
Vou para a aldeia.
É altiva a aldeia que me viu nascer...

Nas suas encostas ainda se deitam videiras vestidas de parras recortadas que escondem cachos de uvas imaturas neste início de Julho.
Ao fundo, o vale em vários tons de verde convida-me a descer até ao rio...
e aquele estreito e esburacado caminho de pó calcado por pares de bois e gente calejada de antigamente, deu lugar a um piso liso mas duro e cinzento.
É uma descida acidentada de curvas acentuadas que os meus pés conhecem tão bem!

As cegonhas regressaram já há alguns anos e voltaram para ficar porque o rio, ora esperto, ora preguiçoso, permanece mais velho mas mantém as suas margens ainda férteis. Num voo rendilhado a preto e branco, planam suavemente sobre as marinhas de arroz agrupadas em rectângulos de terra alagada. Esperam que as espigas ainda verdes dos arrozais amadureçam.
Vou descendo e comigo descem os meus olhos...
Não resisto a um silvado de amoras negras que de tão maduras se desfazem na minha boca.
Choupais afilados, plantados em linha recta dão sombra a molhos de flores do campo.

Finalmente chego ao rio, debruço-me no varandim e vejo que os salgueiros-chorões continuam no mesmo lugar... os seus ramos curvam-se para roçar suave o doce tempero da água.
Uma bateira velha e esquecida agita-se silenciosa para poder escutar a fresca cantiga do rio na sua madeira carcomida pelo tempo.

Fecho os olhos ...
sei que nem tudo é como antigamente...

o ar está mais poluído, mas ainda vale a pena descer até ao rio.



Com carinho
MZ