terça-feira, 1 de junho de 2010

Surreal...


Deveria doer-me a cervical de tanto olhar para o ar, mas na verdade, o que me doía era uma vontade enorme de querer estar suspensa num espaço azul que eu não conseguia identificar se era de céu ou de outra fonte fantástica proveniente do meu subconsciente

O mundo estava vazio...

Na Terra, só eu e um intenso e estranho sonho.
Homens e mulheres vestidos a rigor pairavam no ar e formavam figuras geométricas perfeitas.
Olhavam-me através de uns óculos enormes e protectores. Não havia vento, mas, os cabelos arrepiavam e assanhavam-se conforme o movimento do meu olhar.

Como em todos os sonhos estranhos, algo não batia certo. E naquela espécie de voo livre, aqueles homens e mulheres mantinham os seus fatos impecavelmente engomados.

O azul era apelativo e tudo parecia tão calmo e ordenado!

De tanto querer estar suspensa naquele azul forte e harmonioso, de repente vi-me lá em cima com eles.
Mas, quando o meu sonho me projectou para aquele lugar, reparei que nada era o que eu tinha visto. Não havia azul, nem céu, nem harmonia, nem fatos engomados nem figuras geométricas perfeitas.

Estava encurralada num verdadeiro labirinto de quartos e mais quartos sem janelas e sem portas.

Os mesmos homens e mulheres viviam numa verdadeira desordem e repetiam-se em cada lugar. Não pairavam no azul, mas permaneciam deitados no chão completamente vestidos e os seus fatos entesados pela goma, não passavam agora de um molho de trapos sujos e amarfanhados.

Encontrava-me assim, num espaço caótico e imundo.

Uma visão completamente surreal onde santolas coradas acabadas de cozer e com um aspecto delicioso se misturavam com objectos que eu via, mas que nunca conseguiria descrever. Tudo se espalhava pelo chão  fazendo companhia aqueles corpos andrajosos e paralisados.

Não havia vozes nem qualquer outro som.
Eu só queria o azul... queria sobretudo voar!
Agora, só queria voltar de novo ao meu lugar.
Batia-me o coração descompassadamente, o suor escorria-me e as forças começavam faltar-me.
Onde estava eu?
Descobri que me agarrava desesperadamente a um muro fino e frágil e as minhas pernas estavam suspensas num chão sem fundo.
Foi então que uma voz sem rosto e sem corpo veio ao meu encontro e disse-me suavemente:

-Deixa-te cair... estás a centímetros do chão.

Acordei.





Para a  Fábrica de Letras  com o tema – “Estava Vazio” este Mês de Junho.

Imagem:daqui





Com carinho
MZ