segunda-feira, 11 de junho de 2012

O povo elege.



Eu sou povo e acho que o povo gosta é de Santos que se aproximem mais da terra. Daqueles que sabem o que um homem e uma mulher querem para a vida. Saúde. Um namoro abençoado. Um casamento. Nem que se confunda fé com a busca incessante de êxitos numa base de ideais.

Varandas de colchas à mostra, ruas atapetadas, juncos do campo e o cheiro a erva-doce a subir pelo ar quanto mais pisadas são. Os passos, continuaram ao compasso solene da reza e da banda em gloriosas procissões. E o Santo António, um pouco tosco de menino ao colo, lá vai saindo à rua uma vez todos os anos. Existe o outro, o Padroeiro, com uma igreja de retábulo e tecto de uma agradável riqueza barroca que também vai na procissão, mas não é proclamado favorito. Este, é um santo de Inverno e, nesta estação, há demasiado frio para dançar no largo. Os arraiais não querem chuva e os anjinhos não se podem constipar nem molhar as suas asas penacheiras.

Tal como os homens emergem na sociedade, na vida comum como na fé, também os Santos se destacam abafando outros Santos. Promessas. E o povo elegeu o Santo António. Este, sem saber, lá foi tirando protagonismo ao outro santo. Levei tempo a entender que também assim se endeusa quem o povo quer.
Mz

Tela de Armanda Passos
Pintora portuguesa
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