domingo, 14 de fevereiro de 2016

O Tio e o Fado da Ana Moura


Havia fado da Moura na sala e, o tio fazia intervalos entre o sofá e a lareira. Pequenas e rápidas caminhadas, para atafulhar o fogão de rachas de azinho, avivando a lareira por um grande pedaço de tempo. A passo largo, voltava ao sofá e retomava à macieza da camurça sintética, afinava o ouvido e recuperava o som como se embarcassem juntos, ele a Moura e as guitarras. Aposto que assim, voava para lá do encanto das notas. E tamborilava. Tamborilava os dedos nos joelhos murmurando as palavras do refrão, cada vez mais acertado. Entre cada fado, fazia uma festa ao gato que abria os olhos a muito custo para saber de onde vinha aquele afago tão vigoroso. Porque estaria o dono tão agitado se lá fora até chovia?




mz