quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Boas Festas!


Antes que se acabe o que quer que seja, que reste o Mundo e a gente. Mas se o Mundo se quiser mudar ou até terminar, pois que vá fugidio, sem grande alarido. Em minha casa, estará esquecido.
O Mundo serão  nozes para quebrar,
A massa a levedar e as passas para debicar,
Um dedal a mais e muito mais, de Porto, esse vinho que me faz alar.
E uma menina redonda, bojuda, casca grossa,
Essa abóbora inchada de polpa amarelada,
Em sonhos desfeita, comidos sem se olhar.
E vem leve a canela sorrateira
E uma chuva de açúcar,
Neste amargo de Mundo que se diz finar .
Boas festas!
Mz

Imagem:Kelly rae roberts

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Do Avesso.



Existem pessoas peculiares.
Esta de que vos falo, nunca tolerou costuras coladas ao corpo. Não se lamenta das palmadas levadas por ser tão birrento com tão distintiva irritação. E passou anos e anos a revirar as meias e toda a roupa interior que vestiu por ter de cobrir o corpo do pudor que a lei exige cobrir. E assim andou, resmungando e praguejando anos e anos com quem lhe tratou da roupa sem nunca respeitarem estes gostos contrários de preferir andar ao avesso.
A idade foi uma jornada sempre com os mesmos tiques e comichões. Assim andando, outros apêndices incomodativos se lhe juntaram; os sapatos que lhe apertam os joanetes e a maldita dentadura que lhe dá um doloroso charme. Sabe que é uma pessoa boa, porque assim lhe dizem os outros. Dão-lhe palmadinhas afetuosas libertando-o da consumição de todas estas birras e resmunguices. Sorri porque resiste a mais um Dezembro sabendo que o mundo não se vira ao contrário por alguém se vestir do avesso.
Avesso que dá cautela, é o mundo dos homens que os obriga a um sorriso azedo ao se remendarem vidas costurando um ponto aqui, um ponto ali, cerzindo a exploração do homem pelo homem que se faz sem pudor à luz das Boas Festas.
Mz
Imagem: Tela Vincent Van Gogh

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Energia Eléctrica.


Isto não é um ensaio cru de opinião, é a minha tese caseira sobre a necessidade de um serviço de energia que me custa os olhos da cara.


A factura é pesada, mas chegar a casa com a escuridão da noite e saber que existe um interruptor que me dá a luz que precisam os meus olhos, é como ter o meu sol. É um prolongar do dia imprescindível que não se questiona. Uma refeição quente, a roupa lavada, a blusa engomada. Muitas outras coisas banais que passam por um chá quente ou as notícias do mundo. Numa noite ou outra de solidão, um candeeiro aceso até mais tarde e um livro que iluminam e alimentam o saber de coisas que não me chegam apenas pelo meu viver ou conviver. Luxo, são as velas que passam a acessório, uma luxúria de aromas na banheira que relaxam e embalam desejos. Consumir por prazer ou por necessidade, é uma questão que se coloca sucessivamente.

A minha factura é pesada, mas tenho a minha noite sem medo das sombras. Não obstante, consciente de que, de um momento para o outro, se a sociedade se destruturar até ao limite, também eu e muitos de nós que ainda VIVEM poderão passar para o lado dos que já, hoje, apenas SOBREVIVEM entre noites que se alumiam à luz de velas e me fazem lembrar o cheiro a mortos.



Mz

Texto de Opinião:"Sabemos distinguir entre necessidades (aquilo que dependemos para sobreviver) e desejos (o que gostaríamos de ter) ?"

Imagem:Galeria de pintura e ilustrações