quarta-feira, 30 de outubro de 2013

As minhas velhas tias.



  
 As minhas tias fazem das rugas e das caixinhas de comprimidos, vincos e acessórios assumidos. A caminho dos oitenta, coradas de alegria agitam os colares e fazem esvoaçar lenços e saquinhos de crochet.
 O almoço com as tias passou a ser prazenteiro e o que há anos parecia entediado, tem hoje um sopro gaiteiro. Elas já viveram tanto que os pudores não lhes é entrave nas conversas nem nos adornos. As que já são viúvas gostam de unhas garridas, de roupas floridas e falam da vida. Dos filhos e dos netos, dos saudosos maridos e dos primeiros namorados. Uma amálgama de episódios respeitosos muitos repetidos em quase todos os encontros, mas sempre diferentes quando lhes acrescentam uma pitada secreta.
 - Grandes marotas!
 E brincam com as ainda casadas, sondando-as e espicaçando-as galhofeiras e gozosas. Se uma manifesta conversa de missa, logo outra, uma anedota maliciosa ou libidinosa, tornando as prosas num embriagante shaker sacro- profano de riso desmedido. E comem de tudo como se fosse dia de festa e eu, debicando uma fatia de bolo delicio-me com este e com elas que quando se juntam deslembram a idade.


mz


Imagem: Fernando Botero
Pintor e escultor Colombiano - Ocaiw