terça-feira, 25 de outubro de 2011

Gula Reprimida...



Sem pudor em relatar a intimidade do meu sono, argumento aqui, o quanto a comida nos pode levar pelos caminhos do erotismo...
Mal acordei, culpei um pratinho de chamuças douradas que se adivinhavam deliciosamente crocantes. Não as provei, mas o seu aspecto, fez-me cobiçar o prato alheio num restaurante ao final da tarde de ontem. Por esta gula reprimida, passei a noite inteirinha a namoriscar um Indiano indefinido que me levou à tentação de cometer adultério de turbante. De olhos vendados por hipnos, sem cheiro nem sabor, apenas um embrulhado picante e impensável sonho erótico com um espécime que não aprecio de todo. A memória dos sentidos pregou-me assim esta partida e, acho que a partir de hoje, qualquer dentadinha numa chamuça  irá ter sempre uma ligação afrodisíaca que me fará beliscar a líbido.





Imagem: Óleo de Sylvia Ordonez



Com carinho
Mz

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A Festa...



Mexem-se sem terem em conta o ritmo da música. São mulheres loiras, morenas, magras, gordas, altas e baixas. Umas de saia e blusa ou vestidos curtos, outras de calças e camisolas mais ou menos decotadas. Sandálias de salto alto ou rasas com tirinhas de vidrinhos encastrados, levantam-nas mais uns centímetros ou deixam-nas ao seu tamanho. Algumas, com jóias verdadeiras, outras, com bijutaria simples ou espalhafatosa ou apenas uma corrente de ouro com uma medalha protectora. Os enfeites e as unhas pintadas dão brilho até a quem já está um bocadinho baça... mas a mulher não desiste de si. A base no rosto e as pestanas alongadas permanecem, ao contrário do batom que se vai consumindo com os movimentos expressivos das bocas das mulheres. A festa, é especial. A mesa, de toalha bordada, os copos desencontrados de vários tamanhos, a loiça de porcelana já bastante gasta, mas genuína e  flores, muitas flores e muita cor naquela mesa vestida de branco e naquela sala. Muita conversa entremeada com a comida e muito riso e risinhos entre golinhos de vinho. As mulheres têm fama de faladoras. Falam de tudo e então, quando se juntam aos grupos, parecem galinhas aos olhos dos homens que as adoram, mas que têm sempre esta teimosia em as diminuírem. Galinhas de ouro! É assim que elas se revelam. Tal como uma foice, esta exclamação  uníssona, corta o bico do galo empertigado, sempre que algum se atreve a esta comparação. E então, vem a conversa e a luta em defender a tese. E serão talvez 500 palavras ditas pela mulher para 50 palavras ditas pelo homem. É sempre assim. A mulher terá sempre de se esforçar muito mais do que homem. Mas a mulher não desiste e arregaça as mangas e vai à luta com enfeites ou sem eles mas  convicta de que trará sempre um pequeno trunfo.





Galeria de pintura- Renoir

Com carinho
Mz

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Este Outono...



Quase me apetece apagar o sol por uns momentos e este estado social inquieto para sempre! Temos este calor fora do calendário a dar-nos uma impressão que fomos de férias na época errada parecendo que tudo o resto está fora de tempo e não é nosso. A crise, a política, os cortes, o orçamento, os buracos, as notícias... Tudo isto cansa, satura, é negativo. Até o sol! É como se o diabo estivesse a cozinhar debaixo da terra, por cima da Terra e de todos as bandas uma ementa que inflama e definha. Eu sinto-me levemente cansada e já peço um pouco de chuva ou nuvens verdadeiras que acalmem este calor e me traga o ciclo natural das estações. Ainda assim, quase me dá comichão na pele as roupas de Inverno já expostas nas montras das lojas que desesperam sem facturarem. Já muitos  sentem impaciência e austeridade tendo  a noção da realidade e, não há sol nem tempos estranhos que os iludam. Contudo, existem pessoas que ainda se deleitam com este Outono tórrido, fantasiando que ainda escorre leite e mel nas suas vidas.



Imagem pesquisa:Google


Com carinho
Mz 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Um Portal...

Uma criança viaja e inventa lugares com as coisas mais simples que se pode imaginar...

Havia uma cristaleira antiga na sala de jantar da casa do meu avô. Um dos móveis deixados em herança pela minha avó falecida ainda muito jovem mas já com os quatro filhos que dera à luz em casa e, os únicos que o meu avô teve até ao fim dos seus dias. Eu deveria ter pouco mais de cinco anos e, através dessa cristaleira, durante muito tempo, fiz ali as minhas mais fascinantes viagens.  O meu Portal com vidrinhos pequeninos e madeira artisticamente talhada exibia um objecto que me punha os olhos vítreos.
Proibido mexer! Mas eu tocava às escondidas... e vivia pedaços de tempo sem pestanejar mergulhando os meus olhos castanhos num vestido vermelho muito cintado torneando um corpo cibernético que se alongava por uma cascata de folhinhos de renda sobrepostos,  vestindo uma bonequinha Sevilhana de cabelos muito negros amarrados por uma grande flor rubra de organza. Toda a informação que conseguia obter não me satisfazia e, os meus pais, prometiam-me uma viagem a Espanha que nunca mais se realizava. Enquanto isso, o meu Portal transportava-me e eu sonhava com um lugar onde as mulheres usavam vestidos espantosos, flores na cabeça e um leque que eu imitava com uma folha de papel em forma de concertina.


Imagem pesquisa google: Kelly rae roberts



Escrito para: Fábrica de Letras 
Tema: "Viagens" 


Com carinho
Mz