sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Adeus...


Eu gosto da palavra ADEUS.
Soa-me bem e tenho orgulho em a verbalizar sem preconceitos fatalistas ou conceitos supersticiosos.
Não a sinto como uma palavra de carga negativa ou mesmo definitiva.
Não concordo com a teoria de que ADEUS é a palavra mais triste para uma despedida.
Sabem porquê?
Porque o que me entristece é a separação das pessoas que eu gosto. O que me faz doer é distância e a ausência, não a palavra.
Gosto de usar a palavra ADEUS com alegria, com a esperança de um novo encontro. Gosto de a pronunciar com sorrisos e com acenos de mão.
Como os bebés...
Sim... como os bebés, ou já se esqueceram que esta é uma das primeiras palavras que aprendemos e ensinamos a pronunciar e a gesticular de um modo arrebatador a esses seres pequeninos que nos enchem de orgulho quando conseguem tal proeza?
Adoro vê-los de mãozinhas a acenar e só me enchem de boas energias.
Eu gosto da palavra ADEUS quando todos parecem fugir dela depois de atingiram a fase adulta.


Verbalizo-a nas minhas despedidas calorosas e carinhosas.







Foi o Johnny que me fez reflectir sobre esta palavra ao ler e ao comentar o seu último post AQUI


imagem: google


Com carinho
Mz




segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Das uvas...


Dos meus escritos, guardo um texto em que escolho o fado como metáfora de um trecho da minha vida.
Decidi que hoje ainda não é o dia de o partilhar com vocês. Tem um quê de profundo e de dor. Hoje não é o dia.


Apetece-me deixar-vos um pedacinho de Setembro. Um Setembro rural, de cepas retorcidas. Das vinhas coloridas, das parras recortadas, dos cestos fartos de cachos negros e dourados e da sua polpa a rebentar de sumo.
Apetece-me este Setembro e podia continuar a escrever assim, neste tom levemente poético e bucólico. Mas, também hoje, quero realçar o produto final da vinha. Em especial, descrever as características de um vinho que bebi ao almoço e do rótulo da sua garrafa que tenho à minha frente. 
Fala-me de uma casta especial-BAGA- plantada em vinhedos de solos argilosos e calcários, do seu sabor a framboesa, a amora e cereja que exprimem os diferentes lugares onde as uvas cresceram.
-Por mais que saboreie... raios se me sabe este vinho a frutos vermelhos!

Estou distraída demais para continuar. Não estou em silêncio e, da televisão, saem-me tiros de um filme que já vi e revi umas quantas vezes “Shanghai Noon” - posso mesmo dizer que estou de certa forma com um olho no burro e outro no cigano.





imagem:daqui





Com carinho
Mz

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Serenatas...


Um dia perguntei-lhe o que mais a marcou nos Verões da sua juventude.

Então...
Aconchega-se no sofá e, muito calmamente, passa uma mão engelhada pelo cabelo de cinza. Os seus olhos azuis parecem rir de contentamento...
Abre-se a estrada do tempo e já não são só os olhos que parecem rir. Sem eu contar, dos seus lábios pouco firmes, uma gargalhada bem sonora e contagiante, faz-me rir também. Leva uma mão ao peito como que para acalmar a satisfação e inicia assim as suas memórias de verões já um bocadinho antigas.

Fala-me de um luar com cheiro a flor de laranjeira, das noites quentes, dos acordes de viola, de cantigas e de vozes em serenata.
Sim... as serenatas!
O acordar único em noites de Verão, foram prendas que nunca mais esqueceu. O silêncio amplificava o som e, as vozes dos rapazes, mesmo que desafinadas, soavam mágicas naquelas capas de luar.
Deixava-se abandonar na cadência e repetia baixinho todas as cantigas que se iam soltando.
Voltava-se a fazer silêncio.
Depois, ao outro dia pela manhã, de rosto corado e olhos baixos, dava os bons dias aos pais como se nada tivesse acontecido. E na rua, os mais velhos falavam da noite como se lhes tivessem sido dedicadas as serenatas.

Recomendo aos apaixonados, diz-me ela!


imagem: google


com carinho
Mz

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Cão de Guarda




Durmo com um cão debaixo da minha cama
Guarda-me de feras e de fantasmas
Da noite escura e dos barulhos que parecem não ser humanos.
Durmo com um cão debaixo da minha cama.
Quando estou sozinha, não posso dizer que estou só
Tenho-o a ele, meu cão de guarda
Respira como gente e acalma o meu medo.





:)

Aguarela daqui



Com carinho
Mz

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Anjos...


Da minha infância, não me recordo de alguma vez me questionar sobre os valores materiais, espirituais ou de outros valores que fazem parte da formação de uma criança e por conseguinte do ser humano.

Não me recordo de, questionar Deus.
Não me recordo de, questionar Morte.
Tudo se me apresentava natural e único no meu universo de menina. E o tudo era de toda a gente.
Acreditava em fadas e em bruxas e até pensava que iria ser criança a vida toda.
Da morte não me falavam.
As pessoas morriam, eu sabia! Mas, a morte era coisa que só acontecia aos velhos.
E velhos eram aquelas pessoas enrugadas e de cabelo branco, curvadas na sua bengala também velha e de madeira antiga.
Acreditava tanto nisso, que, até mesmo a morte do meu irmão bebé não se me ocorreu como uma morte. A morte não era para seres pequeninos com poucos meses de vida.
Deus levo-o simplesmente, como um anjo, e eu até acreditava em anjos e num céu povoado por seres transparentes com asas como as nuvens.
Foi um dia estranho. O dia, foi de visitas muitas visitas como se fosse uma festa em que os sorrisos tinham sido roubados das bocas das pessoas. Havia um fotógrafo, mas o único que sorria para mim era o meu irmão bebé que permanecia imóvel numa espécie de altar feito em cima de uma mesa na sala dos meus avós.
Embora estranho, tudo foi aceite.
E depois, esqueci...
Não me recordo de se falar mais desta morte.

Um dia, ainda criança e quase adolescente fui encontrar os vivos e os mortos todos juntos num álbum enterrado no fundo de uma gaveta e, nesse mundo de mortos e de vivos que teimamos em guardar para se acaso um dia se nos varrerem da memória, lá estava ele, o meu irmão bebé a sorrir para mim.




Para a Fábrica de Letras  com  “TEMA LIVRE” este Mês de Setembro.


Imagem:daqui




Com carinho
MZ