segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Ter tempo







Como todos os verões, a Esmeralda tem uns dias seguidos para a mãe. Enquanto todos dormem até tarde, elas madrugam. Estendem as toalhas de praia como se dormissem na mesma cama, e conta-lhe das impaciências, das ânsias, das coisas que tem medo de não ter tempo de fazer. A mãe faz silêncio. Depois, os murmúrios das vozes que vão chegando, confundem-se com o sussurro da mãe que chega como se lhe falasse ao ouvido. 
- Olha, já agora, quando morrer, quero ir para uma campa para que, as pessoas que gostam de mim me possam levar flores. Sou como aquela senhora do filme em que, os gatos não têm vertigens. Isso mesmo, um filme. Um bom filme para mim, de vez em quando, ajuda-me a esclarecer dúvidas. Por isso minha filha, não recuses a receita que te dei, aquela dos pãezinhos. A que andas há anos para fazer, porque dizes que não podes esperar que a massa levede. Faz os pãezinhos e compara-os à vida. Não há segredos.

mz  



artista plásticas contemporânea  portuguesa