Na capela, lá no largo da aldeia, cumprimentam-se com beijinhos as raparigas. Falam de mim e de flores. Já não cheiram a feno nem a alfazema, os perfumes de hoje, são outros, sofisticados... Mas voltam, voltam sempre, solteiras mas não virgens até aposto! Perdoa-me Deus que o amor e o calor dos corpos é mais importante que a virgindade que o homem inventou e, o pecado, é outra coisa. A capela é delas, de todas as mulheres, de todos os sorrisos, inocentes ou picantes, solteiras ou casadas, novas ou velhas. A Capela é desta terra que em mim acredita e respeita. É dos rapazes de todas as idades, do pagão e do religioso. É dos que suportam o meu peso nas costas. Não me incomodam as procissões nem o lustro dado pelas raparigas, mesmo corado e empoleirado no andor. Gosto de arejar, gosto das colchas nas janelas e da banda a compasso. Sou António e sou do mundo. Fizeram-me Santo. Prolongam-me também por aqui e aqui estou, esculpido nos corações e no calcário coimbrão do séc. XV. Aqui sou tosco pesado e muito antigo. O homem escolhe como me quer ver... mesmo que só alguns me sintam. Quem de mim escreve, que escreva livre e solte o pensamento. Assim continuo vivo.
Fotografia: Jfifas
Com carinho
Mz
16 comentários:
Que maravilha, surpreendeu-me este teu texto pela maneira como vês Sto António.
Beijinhos
Giro o texto :) Na quinta dos meus pais, também há uma capela de Sto Atónio, que é da Paróquia embora esteja dentro do terreno deles. Quando era mais nova, faziam-se festas, com banda filarmónica, leilões de comida, procissão e festa nocturna com conjuntos e ranchos locais...o meu pai abria os portões da quinta para toda a aldeia entrar e festejar... outros tempos. Hoje, o Pároco deve achar que dá muto trabalho... nem missa, nem procissão, nem festa. A pequena capela, onde baptizei ambos os meus filhos, está permanentemente fechada todo o ano... triste porque ela é muito simples e pequenina, amorosa...beijinhos
Que coisa linda sobre o Santo António...
Ele, que era muito liberal, até perdoa que não haja virgens, ehehe...
Fê,
Existem três textos onde Stº António está presente, este não é o primeiro.
Para além deste,
Uma Luz no Olhar - Junho 2010
O Largo - Fevereiro 2010.
Obrigada pelo comentário.
Bjs
Eva G.
o Stº António não é o santo padroeiro da aldeia onde nasci, mas é o Santo mais querido. De todas as quatro festas que se realizam lá, é ele que tem a maior do ano.
Temos a Igreja matriz rica em talha dourada de estilo Barroco onde se realizam todas as cerimónias religiosas. E a Capela com o mesmo nome do Santo, raramente se abre. Quem cuida dela são as mordomas que têm de ser solteiras :)
Todas as semanas é limpa mas no dia da festa é um esplendor... as meninas esmeram-se muito!
É uma pena o vosso padre não celebrar o dia de Santo antónio na Capela. Houve um Padre que também era contra as festas na aldeia, mas o povo encostou-o à parede e ele pensou duas vezes. As pessoas da aldeia lá podem viver sem festa!
bjs
Pinguim,
eu também concordo.
Ai, olha eu tão babada... muito obrigada!
Belíssimo texto a Santo António.
Criou-se uma tradição à volta deste santo que é muito agradável: a laicização dos costumes de comer sardinhas e beber vinho... Afinal qual a via mais rápida para chegar aos deuses senão através do vinho... Os gregos cultivaram amiude esse desiderato.
Bjs
JPD,
Se o vinho e a sardinha for a via de se chegar aos milagres, então, Santo Antonio continua a fazer os seus, juntando as pessoas! Pobres e ricos num convívio e boa disposição.
Bjs
Mas que beleza de Santo...
Não me ensinaram a vê-lo assim, mas apresentaram-mo mais dourado e com um menino ao colo.
Será que ele também mudou e já não é o mesmo das bilhas partidas, dessas virgens loucas ou desses rapagões que a elas se vão...?
Ai meu rico santo que este mundo tá louco!...
Voltarei ao teu blogue que me pareceu muito bom.
Adorei saber mais de ti e do teu pensar.Não sou muito de santos mas gosto muito de S.Antonio e S.Chiquinho...Lindo! um beijo,tudo de bom,chica
Luís Coelho,
as imagens fazem a diferença, o meu é tosco.
Obbrigada.
Chica,
S. Chiquinho... é lindo!
Tudo de bom,
bjs
Alguma vez existiu um perfume de feno? Se o YSL sabe disso, ainda lança uma versão moderna, do género "Feno à la Paris"...
Quando um dia te deitares em cima de um monte de feno irás entender.
Vale!
Que texto lindo! adoro a maneira como escreves!
Bjs
Lilá(s)
obrigada :)
Bjs
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