segunda-feira, 13 de junho de 2011

Quem de mim... (Stº António)



Na capela, lá no largo da aldeia, cumprimentam-se com beijinhos as raparigas. Falam de mim e de flores. Já não cheiram a feno nem a alfazema, os perfumes de hoje, são outros, sofisticados... Mas voltam, voltam sempre, solteiras mas não virgens até aposto! Perdoa-me Deus que o amor e o calor dos corpos é mais importante que a virgindade que o homem inventou e, o pecado, é outra coisa. A capela é delas, de todas as mulheres, de todos os sorrisos, inocentes ou picantes, solteiras ou casadas, novas ou velhas. A Capela é desta terra que em mim acredita e respeita. É dos rapazes de todas as idades, do pagão e do religioso. É dos que suportam o meu peso nas costas. Não me incomodam as procissões nem o lustro dado pelas raparigas, mesmo corado e empoleirado no andor. Gosto de arejar, gosto das colchas nas janelas e da banda a compasso. Sou António e sou do mundo. Fizeram-me Santo. Prolongam-me também por aqui e aqui estou, esculpido nos corações e no calcário coimbrão do séc. XV. Aqui sou tosco pesado e muito antigo. O homem escolhe como me quer ver... mesmo que só alguns me sintam. Quem de mim escreve, que escreva livre e solte o pensamento. Assim continuo vivo.


(Stº António, na minha aldeia)
Fotografia: Jfifas


Com carinho
Mz

16 comentários:

Fê blue bird disse...

Que maravilha, surpreendeu-me este teu texto pela maneira como vês Sto António.

Beijinhos

Eva Gonçalves disse...

Giro o texto :) Na quinta dos meus pais, também há uma capela de Sto Atónio, que é da Paróquia embora esteja dentro do terreno deles. Quando era mais nova, faziam-se festas, com banda filarmónica, leilões de comida, procissão e festa nocturna com conjuntos e ranchos locais...o meu pai abria os portões da quinta para toda a aldeia entrar e festejar... outros tempos. Hoje, o Pároco deve achar que dá muto trabalho... nem missa, nem procissão, nem festa. A pequena capela, onde baptizei ambos os meus filhos, está permanentemente fechada todo o ano... triste porque ela é muito simples e pequenina, amorosa...beijinhos

João Roque disse...

Que coisa linda sobre o Santo António...
Ele, que era muito liberal, até perdoa que não haja virgens, ehehe...

mz disse...

Fê,

Existem três textos onde Stº António está presente, este não é o primeiro.
Para além deste,
Uma Luz no Olhar - Junho 2010
O Largo - Fevereiro 2010.

Obrigada pelo comentário.
Bjs

mz disse...

Eva G.
o Stº António não é o santo padroeiro da aldeia onde nasci, mas é o Santo mais querido. De todas as quatro festas que se realizam lá, é ele que tem a maior do ano.

Temos a Igreja matriz rica em talha dourada de estilo Barroco onde se realizam todas as cerimónias religiosas. E a Capela com o mesmo nome do Santo, raramente se abre. Quem cuida dela são as mordomas que têm de ser solteiras :)
Todas as semanas é limpa mas no dia da festa é um esplendor... as meninas esmeram-se muito!


É uma pena o vosso padre não celebrar o dia de Santo antónio na Capela. Houve um Padre que também era contra as festas na aldeia, mas o povo encostou-o à parede e ele pensou duas vezes. As pessoas da aldeia lá podem viver sem festa!

bjs

mz disse...

Pinguim,
eu também concordo.
Ai, olha eu tão babada... muito obrigada!

Anónimo disse...

Belíssimo texto a Santo António.

Criou-se uma tradição à volta deste santo que é muito agradável: a laicização dos costumes de comer sardinhas e beber vinho... Afinal qual a via mais rápida para chegar aos deuses senão através do vinho... Os gregos cultivaram amiude esse desiderato.

Bjs

mz disse...

JPD,
Se o vinho e a sardinha for a via de se chegar aos milagres, então, Santo Antonio continua a fazer os seus, juntando as pessoas! Pobres e ricos num convívio e boa disposição.

Bjs

Unknown disse...

Mas que beleza de Santo...
Não me ensinaram a vê-lo assim, mas apresentaram-mo mais dourado e com um menino ao colo.
Será que ele também mudou e já não é o mesmo das bilhas partidas, dessas virgens loucas ou desses rapagões que a elas se vão...?

Ai meu rico santo que este mundo tá louco!...

Voltarei ao teu blogue que me pareceu muito bom.

chica disse...

Adorei saber mais de ti e do teu pensar.Não sou muito de santos mas gosto muito de S.Antonio e S.Chiquinho...Lindo! um beijo,tudo de bom,chica

mz disse...

Luís Coelho,
as imagens fazem a diferença, o meu é tosco.

Obbrigada.

mz disse...

Chica,
S. Chiquinho... é lindo!

Tudo de bom,
bjs

Rafeiro Perfumado disse...

Alguma vez existiu um perfume de feno? Se o YSL sabe disso, ainda lança uma versão moderna, do género "Feno à la Paris"...

mz disse...

Quando um dia te deitares em cima de um monte de feno irás entender.

Vale!

Lilá(s) disse...

Que texto lindo! adoro a maneira como escreves!
Bjs

mz disse...

Lilá(s)
obrigada :)

Bjs