segunda-feira, 18 de abril de 2011

Alecrim...



Trouxe-me um raminho benzido, a minha amiga. Uma palma entrançada num galho de alecrim e uma pernada de oliveira, tudo preso com uma fita de seda roxa. Foi o cheiro da minha infância que eu respirei hoje, foi isso! Junto, chegou-me também um domingo com o mesmo propósito religioso de todos os 'Domingo de Ramos'. O mesmo recitar a alta voz como uma música de cor e salteada, igualzinha à tabuada de à muitos anos atrás.
Abeirou-se a ligeireza da Páscoa dentro de mim como menina que era e as coisas que não compreendia. Vai... e eu ia... Inocente, pequenina, alegre, de mão dada com a família, o povo e os ramos de alecrim. Balouçava o ramo e o vestido. Sempre com o meu melhor vestido. Depois, guardava-se o benzido e, nos dias de uma trovoada manifestamente assustadora, eu conquistava a glória de a amansar! Uma ilusão popular aquietava o meu medo com um ramo seco de alecrim. Pedacinhos cheios de graça divina que eu lançava para o fogo da lareira convicta de que, a tempestade perdia toda a sua força. Há muitos anos que os ingredientes são os mesmos, mas a crença já não se aplica.

Hoje, salvo o teu raminho benzido para que me guarde das minhas tempestades, daquelas do meu interior, minha amiga. Obrigada.




Fotografia: Diario de Lisboa
com carinho
Mz

14 comentários:

Eva Gonçalves disse...

Que semana mais santa pode haver, se uma amiga nos oferece um tal raminho benzido para nos protegermos das nossas tempestades interiores? A crença foi-se mas as memórias dessa inocência ficam... saudades dessa certeza... sendo que a amizade, é hoje a crença e a certeza também. :)Tem uma boa semana! beijinhos

mz disse...

Eva Gonçalves,
a amizade é sem dúvida uma crença a preservar muito!
Obrigada e boa semana.
Bjs :)

Carolina Louback disse...

As tempestades, aquelas do meu interior... Lindo!

mz disse...

CArolina Tavares,
umas vezes lindas, outras nem por isso...

João Roque disse...

Eu quase me esqueço da Pascoa; ainda mais do domingo de Ramos...

estouparaaquivirada disse...

Ora bem...então a nossa amiga levou-te um raminho benzido para te proteger das tempestades interiores???? Pena tenho eu que ela não me tenha dado um para me proteger das exteriores :) que cá em casa já somos duas com medo das trovoadas :))
beijinhos

mz disse...

Pinguim,
agora fez-me rir a bom rir... e bem preciso, fique a saber!

mz disse...

Papoila,
tu por acaso não tens uma amiga que te tenha dado um raminho igual ao meu, não?
:)))

Eloah disse...

Estive dando uma passada no teu Blog.Adorei!Parabens pela sensibilidade de guardar memórias e grandes afetos.A doação de um simples raminho de alegrim por certo trouxe no seu bojo o carinho da preocupação e da amizade. Felicidades amiga e que na tua alma persista sempre a eterna primavera.
Estarei te esperando no meu cantinho, do outro lado do mar, com um selo de presente de Blog "Nota 1.000".Abraços

mz disse...

Eloah,
obrigada palas palavras.
Felicidades.

Lilá(s) disse...

Cresci na cidade, onde nada de especial acontecia mas, lembro-me da minha m~ae me falar desses rituais na terra dela e eu ouvia deslumbrada.
Bjs

mz disse...

Lilá(s),
as aldeias guardam muitas histórias e crenças e as cidades também as têm por certo!
Bjs

Utópico disse...

É sempre bom quando alguma coisa nos traz à memória aquelas boas recordações do nosso passado.

Quanto às nossas tempestades interiores não devemos ter medo de as enfrentar de frente, pois não há mal que sempre dure.

mz disse...

Utópico,
exactamente!