domingo, 10 de abril de 2016

E se fosse eu?





Se fosse eu, uma refugiada?
Se tivesse de fazer a minha mochila, de certeza que não a faria com sentimentos poéticos como alguém disse por aí que, levaria lá dentro apenas toda a saudade. Saudade? Na guerra não se pensa na saudade desta forma. A saudade é, para depois.



Na minha mochila levaria alerta e sobrevivência. Agradeceria o bom censo quando, num momento de caos ao abrir a minha mochila, observar que tive o sangue frio de lá colocar qualquer coisa que me aqueça, me encha o estômago, me mate a sede e me limpe dos suores frios do medo e da terra chão que supostamente me serviria de cama. Para além da identificação, o telemóvel e o carregador. O meu disco externo que é leve e pequeno, um livro, um bloco virgem, vários lápis de carvão e um canivete suíço. O dinheiro em notas pequenas. E sem pudor digo: levaria as minhas jóias cozidas nas bainhas internas da minha roupa. Em sobrevivência é preciso também ter moeda de troca, ser calculista. E tenho a certeza que no horror da fuga, a poesia até poderia estar na chave da minha casa supostamente já em ruínas onde estaria também, toda a saudade.


mz




fotografia da minha autoria



 “E se fosse eu?” 
É uma campanha inspirada no projeto “What’s In My Bag?”, desenvolvido pelo International Rescue Comitee e pelo fotógrafo Tyler Jump, que fotografou um grupo de refugiados que chegou à ilha de Lesbos, que mostrou o que levavam nas suas mochilas quando tiveram de fugir.

8 comentários:

UIFPW08 disse...

Linda foto, Parabens.
Morris

Isabel Pires disse...

Soube-me bem ler a tua reflexão.
Mais ainda por se ter dito tanto disparate à conta desta iniciativa.
Beijo, mz!

Graça Pires disse...

Saber pôr-se no lugar do outro. Saber que um dia podemos ser nós a ter de fugir... E não gostaríamos que nos acolhessem? É bom reflectir sobre isso. Gostei do que levavas na tua mochila...
Um beijo.

Agostinho disse...

Olá, boa tarde.
Antes de mais a fotografia: muito a propósito do tema. Gostei.
Talvez ponha no Mundo uma porta que tenho. O que importa é a sorte.

chica disse...

Foto maravilhosa e adorei te ler. Bem realista, calculando o futuro! perfeita colocação! Gostei! Eu acho que ficaria embasbacada e nem saberia o que colocar... Muito lindo! Obrigadão pelos carinhos comigo e com Kiko que agradece também. bjs, chica

Laura Ferreira disse...

até que enfim leio alguma coisa de jeito sobre este tema!

Helena Resende disse...

A foto é linda ... sinceramente nem sei bem o que levaria... mas acredito que devemos aceitar e receber bem os outros, porque nunca se sabe se um dia não seremos nós!

http://checkinonline.blogspot.pt/

manuela baptista disse...

saber reconhecer nos outros, a porta da nossa casa