quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Distâncias...



Hoje acordei ligeiramente apertada, enrolada num casulo branco que não era mais do que um emaranhado de lençóis. E cansada!
Cansada, atrofiada, sei lá! Amarfanhada, como se de uma mala de viagem tivesse saído e eu própria fosse uma peça de roupa amarrotada.
Da mala, saí eu e os meus últimos pensamentos da noite anterior.
Juntamente com a mala, chegou também o grande baú da saudade selado pela distância das pessoas que eu gosto. É uma distância sentida de forma muito estranha...
É como se um curto espaço de tempo se estendesse na memória de um verbo conjugado num passado longínquo.

Eu sou teimosa, obtusa e frágil...
e magoam-me as distâncias e as palavras que chegam quase sempre atrasadas.
A maior parte das vezes, desencontradas do momento em que mais preciso delas incluindo as pessoas que as trazem. Tudo parece perder-se numa longa viagem.

Eu sou teimosa e obtusa.
Não quero reconhecer que a celeridade psicológica deste avanço alucinante do tempo é uma tentativa de me flagelar ainda mais. O chicote bate até sangrar. E, a dor da saudade ganha uma dimensão suficiente para me ferir a alma numa escala superior à realidade.
A verdade, é que se viaja no tempo conforme a dor e o estado psicológico em que nos encontramos.

Sou teimosa e obtusa, nunca serei perfeita.
A minha força não é suficiente para entender que a distância por vezes é curta e não passa apenas de uma mão cheia de dias.








Para a Fábrica de Letras com o tema – “Uma Longa Viagem” este mês de Agosto








Com carinho
Mz

14 comentários:

Lilá(s) disse...

É bom ler-te quer seja realidade ou ficção está uma delicia!
Bjs

Carolina Louback disse...

Denso texto, densa alma. ¨Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.¨ (Fernando Pessoa, Mar Português)
De outro mar para o seu.
Bejos

.I. disse...

Portanto, deixa-me ver se entendi bem... és teimosa e obtusa, certo?

Eduardina disse...

Muito introspectivo, e muito belo! Reconhecer as limitações, é uma força, nunca uma fraqueza.
E, já agora, a música do mar do seu cantinho,é uma maravilhosa terapia.
Vou voltar!
Beijinho.

mz disse...

*Lilá(s)
um bocadinho de realidade e um um bocadinho de ficção...
bjs

mz disse...

Carolina T.
é um bocadinho intenso, sim... e a fotografia era a ideal para este texto.
Muito obrigada!

Bjs

mz disse...

.I.
a personagem do texto é simmmmm não é difícil de chegar a essa conclusão, pois não?
:)

mz disse...

Eduardina,
é bem verdade... sempre se podem melhorar.

Obrigada.
Eu estarei sempre aqui.
beijinhos

Rafeiro Perfumado disse...

Andaste foi armada em crisálida...

mz disse...

Pois foi... vamos ver se consigo a metamorfose completa.
:)

encantos disse...

...gostei de facto deste texto! pq?...
pq tá excelente, pronto

Denise disse...

Muito bom de se ler!
Ser-se teimoso e obtuso não é necessariamente mau e também não tem de ser obrigatoriamente bom. Talvez se trate apenas de ser o suficiente...
Apenas se perde, numa longa viagem, aquilo que na verdade não tem relevância e não deverá permanecer nas nossas vidas.
Já perdi tanto e só agora me dou conta de que talvez não tenha perdido nada!

Beijinho de mais uma seguidora!

mz disse...

des-cantos,
eu agradeço e pronto!

:)

mz disse...

Denise,
é mesmo... por vezes parece perder-se tanto quando na realidade é só o nosso estado exarcebado de ver e de sentir as coisas.

obg