sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Este Natal...


Muito devagar, ela passeia-se pelas ruas decoradas.
A iluminação forte e colorida põem-na tonta.

Mas ela prefere esta tontura à outra!


Pessoas animadas passam por nós como trânsito em hora de ponta, dão-nos pequenos encontrões e pedem desculpa.


Ela desculpa e não se importa!


Entende-as,
ela também não tem muito tempo, mas ao contrário delas, move-se lentamente...
Agora, faz tudo muito devagar e o tempo foge-lhe muito rapidamente.
Lembra-se que em Agosto, corria nas compras de última hora para umas merecidas férias. Carregava sacos e mais sacos...
Alegre, irradiava energia, força!
Dezembro chegou, e tudo isso ficou para trás.
Agora, as forças quase lhe faltam para que possa carregar o seu próprio corpo...
Também precisa de fazer compras, não por vaidade ou porque é quase Natal...
As suas roupas caem-lhe pelo corpo, este encolheu e ela está seca como mirra.
Demora-se em cada montra, cansada...


Ainda assim, ela prefere este cansaço ao outro!


Sente fraqueza e precisa de comer qualquer coisa.
O bolo-rei, os sonhos, as filhós também anunciam que o natal está muito próximo.
Pede uma filhós mas à primeira dentada sente-se enjoada.


Ainda assim ela prefere este enjoo!


Tudo é preferível aos efeitos da rádio e quimioterapia...


Da janela rasgada e transparente, olha para as águas vivas da “nossa Veneza”...
Os seus olhos baços dançam acompanhando os movimentos ondulantes dessas águas que reflectem uma aguarela trémula, são as luzes alegres de Natal.
Os lábios secos e descoloridos segredam baixinho...


“Deixa-me viver este Natal!”



Tema para a Fábrica de Letras: "Natal"

12 comentários:

Brown Eyes disse...

Uma vida que aproveita todos os momentos que ainda tem. Alguém que sente a morte mais próxima e quer viver o último Natal.

Rafeiro Perfumado disse...

Pedem desculpa pelos encontrões? Vê-se logo que é um conto, ou então é a vontade de que o espírito natalício se espalhe. Ainda hoje levei um empurrão que ia ficando do avesso. Desculpa? Só se fosse por não me ter mandado ao chão...

Beijoca!

mz disse...

Brown Eyes,
é isso mesmo...


Rafeiro Perfumado,
não é um conto, é verdade...
Eu ainda peço desculpa se derrepente vou de encontro a alguém e tu Rafeiro?


bjo

El Matador disse...

Comovente!

Ginger disse...

Muito triste... realmente a tal máxima "Haja saúde", aplica-se.

Sem saúde, não somos nada. =|


*

estouparaaquivirada disse...

Ela vai viver este Natal! Estou certa.
Com fé e muita, muita força Milagres estão sempre a acontecer...
Porque não mais um para ela????
Vamos esperar.
xx

Blackberry disse...

Puxa! Fiquei com um aperto no peito... mas estou com a Papoila, aqui em cima. Ela vai viver este Natal e quem sabe outros mais. Pensamento POSITIVO - talvez não resolva, mas ajuda!

Bjnho

Eli disse...

Arrepiei-me com a tristeza. É bom saber que tenho sentimentos que se manifestam, mas este texto e esta música... ai...

Que este Natal seja isso mesmo, Natal!

:)

Diário de Lisboa disse...

já vivi isto muito de perto...muito bonito, como sempre, MZ.

Azoresub-Bluewater disse...

Gostei!! transmite emoção! =)

Rafeiro Perfumado disse...

Peço sempre, menos quando vou a sair do metro e as pessoas se metem à frente da porta, aí faço uma carga à tourada!

Sara disse...

Olá amiga,

Desculpa esta ausência mas não tenho tido a disponibilidade desejada para o fazer.

Esta história é muito triste mas ao mesmo tempo de esperança.

Ajuda-nos a relativizar os nossos problemas que, perante estes, não são nada e ensina-nos a valorizar o que temos porque o tempo passa muito depressa.

Que o Natal chegue todos os anos e que cá estejamos todos para o festejar incluindo a protagonista desta história. Bjs e feliz natal!