terça-feira, 21 de junho de 2011

Sem pudor... (Incluindo a Banca da Cozinha)



Eu queria ver tudo. Tudo.
E tudo é sobre o homem que mora mesmo em frente a mim. São alguns metros que nos separam. Uns metros de janela e também de pensamento. Ai o pensamento, onde me leva o pensamento!

Tapado por uma esguelha de cimento, aposto que todo ele é nudez sem pejo para lá da argamassa. Azucrina-me quando prevarica da musculatura sem roupa, no estendal. Sacode a roupa e põe a mola, ligeiro. Provoca-me o vigor do tapete arremessando a poeira acumulada. É arrumadinho o Adónis! E eu, Vénus sem vergonha, imagino paredes de vidro que sugo de um só fôlego e não preciso de chave para entrar. E entro descarada e diáfana e, abusada. E vejo tudo... Tudo, incluindo a banca da cozinha onde sem pudor, lá está ele tal como eu imaginava. E vejo tudo...





Concurso de escrita criativa Including The Kitchen Sink

Blogue da Eva Gonçalves seguindo a rúbrica:
"Diz-me como se chama o teu blogue, dir-te-ei o que me apetecer"





imagem:Aguarela de João Barcelos


Com carinho
Mz

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Quem de mim... (Stº António)



Na capela, lá no largo da aldeia, cumprimentam-se com beijinhos as raparigas. Falam de mim e de flores. Já não cheiram a feno nem a alfazema, os perfumes de hoje, são outros, sofisticados... Mas voltam, voltam sempre, solteiras mas não virgens até aposto! Perdoa-me Deus que o amor e o calor dos corpos é mais importante que a virgindade que o homem inventou e, o pecado, é outra coisa. A capela é delas, de todas as mulheres, de todos os sorrisos, inocentes ou picantes, solteiras ou casadas, novas ou velhas. A Capela é desta terra que em mim acredita e respeita. É dos rapazes de todas as idades, do pagão e do religioso. É dos que suportam o meu peso nas costas. Não me incomodam as procissões nem o lustro dado pelas raparigas, mesmo corado e empoleirado no andor. Gosto de arejar, gosto das colchas nas janelas e da banda a compasso. Sou António e sou do mundo. Fizeram-me Santo. Prolongam-me também por aqui e aqui estou, esculpido nos corações e no calcário coimbrão do séc. XV. Aqui sou tosco pesado e muito antigo. O homem escolhe como me quer ver... mesmo que só alguns me sintam. Quem de mim escreve, que escreva livre e solte o pensamento. Assim continuo vivo.


(Stº António, na minha aldeia)
Fotografia: Jfifas


Com carinho
Mz

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Machos... (Fábrica de Letras)




Olhem que se não fossem estes, os tempos em que eles até já se depilam por completo e se vestem com apontamentos de rosa e lilás, eu quase me atrevia a especular que quem sugere que “os problemas resolvem-se à chapada”, possa vir manifesta e exclusivamente de algum figurão do sexo masculino. Não fosse o caso, colocava a mulher definitivamente fora disto, salvaguardando aqui, apenas, aquelas de pêlo na venta que sempre existiram escondidinhas pelos recantos de castos lares, defendendo timidamente que umas chapadas, serão sempre o ideal para colocar a família no lugar, incluindo o macho mole que lhe faz os filhos. Ah, pois...

Mas, para dar mais sustentação à minha teoria, volto a frisar que não fossem os tempos já não serem como os de antigamente em que, bastavam duas cores apenas para definirem os sexos opostos, eu não especulava. Não especulava, apenas confirmava! E confirmava, baseada em algo que se inicia muito precoce e inocentemente.
Vejamos. Se recuarmos a uma infância em que os brinquedos e as brincadeiras seleccionavam grupos facilmente identificáveis, recordamos que as meninas eram delicadas e os meninos travessos por natureza. Se, no nosso núcleo familiar existissem rapazes, eles não se limitavam apenas a brincar. Não, não e não! Sabíamos perfeitamente que não descansavam enquanto não desmontassem os carrinhos ou um outro brinquedo mecânico. À primeira oportunidade, eram bem capazes de arrancar os membros das nossas bonecas rindo de satisfação. Seguindo estes factos, atrever-me-ia a dizer que o instinto de destruição no sexo masculino é visceral. Os brinquedos, são apenas a ponte, pois se por acaso perdem a jogar à bola ou a outro tipo de brincadeira, embulham-se e passam rapidamente para a chapada.

Por falar em bola, temos o exemplo do futebol que  cujas réplicas tenrinhas do sexo masculino de que falo, lá em cima, depois já em estado adulto, tão bem sustentam esta minha teoria. Atrevo-me pois a dizer que por vezes, e principalmente na idade adulta, umas quantas chapadas bem assentes só lhes fazia era muito bem!











imagem google: Surrealismo



Escrito em tom de brincadeira,
Para Fábrica de Letras
Tema de Junho:
“Os problemas resolvem-se à Chapada”



Com carinho
Mz