segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ainda Setembro...


Cresci com Setembro a cheirar a vinho mosto.
Com a adega numa azáfama de pessoas carregando cestos de vime que transbordavam de cachos de uvas negras até o lagar ficar com a medida certa.
Com as mesas improvisadas, onde à hora de almoço se comia substancialmente para repor as energias gastas .
Eram conversas animadas em que o cansaço se desvanecia com a alegria do convívio entre aqueles homens e mulheres que se ofereciam para as vindimas.
Chovesse ou fizesse sol, esperava-os mais cepas retorcidas, mais parras recortadas onde as tesouras procuravam o caule dos cachos de uvas para cortar...
Com um pouco de sorte, também eu ia com eles e ajudava na tarefa. Sempre que alguém encontrava uvas brancas chamavam-me para ser eu (a menina) a cortá-las!
O lagar tinha de ficar pronto para receber à noite os pés dos homens que iriam fazer a pisa.
A noite pertencia aos homens!
Esperava-os uma bacia com água limpa, sabão azul e uma toalha escura onde eles lavavam e limpavam os pés.
Todos os anos era o mesmo ritual.

Há muito tempo que não corto os cachos e não carrego os baldes cheios de uvas maduras.
As minhas mãos já não ficam peganhentas de doçura deste fruto magnífico.

Os anos foram passando, a paisagem alterou-se, as heranças divididas e as vinhas desapareceram para dar lugar a vivendas de família...
As cepas já foram queimadas nas lareiras à alguns anos...
Mas a adega, continua lá... com o lagar, a prensa, os tonéis e as pipas de vários tamanhos

O cheiro a vinho, deu lugar a um cheiro húmido e bafiento e as teias de aranha teimam em fazer ali a sua casa.


(Imagem: Google)



com carinho
MZ