Um dia chamaram-me Aldeã.
Gosto da palavra.
Nasci na aldeia num tempo em que as mães pariam em casa. Quem me amparou foi uma parteira aflita por ter nas mãos duas vidas. A de uma grávida, minha mãe e um ser pequenino com vontade de vir ao mundo - eu.
Nasci numa madrugada de Primavera e, enquanto toda a aldeia dormia, gritava eu, de vida. Esperneava sem saber quem me sustinha fora do ventre.
Gosto de aldeã, gosto de camponesa. Cresci com o aroma das frutas, cortei cachos de uvas e colhi maçãs, nunca lavrei uma terra, nem me deitei no feno. Doce e feminina, cresci. Tornei-me mulher com a fantasia de me sentir erva aromática exalando perfume sempre que o amor me acaricia e me esfrega com a ponta dos seus dedos.
Pintura: Julien Dupre
Com carinho
Mz