domingo, 30 de abril de 2017

Postal e uma crónica de Abril

Texto e fotografia,Mz


É fácil plantar cravos – dizem-me as mulheres da aldeia enquanto me pedem os talos dos molhos que levei à sepultura do pai. O pai nunca foi à tropa, nunca lutou no Ultramar devido a um acidente que lhe deixou uma pequena deficiência no braço. Disseram-lhe que lhe atrasava as rajadas de metralhadora. Livrou-se da guerra. Culto e conhecedor de outras políticas, nunca se resignou à ditadura, tornando-se num outro guerreiro e, entre muitos, um dos perseguidos da PIDE - Polícia Internacional da Defesa do Estado Português à época. Frequentava as reuniões na penumbra da noite e as detenções foram acontecendo. A mãe rezava, nessas noites. Quando aconteceu o dia da libertação, a alegria foi fogo que lhe vinha da alma, como se lhe nascesse outro filho. A mãe chorava, porque não lhe saía do pensamento que tamanha conquista se poderia converter numa guerra civil. O caminho, com imperfeições fez-se com rumo e paz e eu, dou graças e festejo. Planto cravos no jardim, vermelhos como devem ser para que se alongue eternamente a memória destes que desfilaram altaneiros nos canos das espingardas em dia de revolução. A revolução que se converteu em poesia e sem haver comparação, ocorre-me que tivemos cravos e não rosas de Hiroxima.



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