A propósito de Dezembro, relembro a bondade dos homens. Não
por ser quase natal, mas por causa do meu amigo António que um destes dias me
mostrou com orgulho um dos Livros de Caixa que entre outras coisas herdou de
seus pais. Juntamente um pesado cofre de quatro pés. Nesse deve e haver, registara
o seu pai, todos os movimentos do ano de 1954. Com letras e números mais
desenhados do que escritos, ficou o apontamento de que a sua velha e pobre padaria
lhe rendera dinheiro suficiente para prosperar. Construíra uma casa nova que
lhe custara sessenta e quatro contos e setecentos escudos. Incluindo a nova e
moderna padaria com balcão de atendimento. Na sua inauguração, cozera e distribuíra
pão a todos os pobres da aldeia e outros que conhecia. Um dia feliz e solidário
descartado da memória, pois a nossa geração nunca ouviu falar deste gesto de
bondade salvo nas memórias dos números do livro de razão. Numa visão simplista, digo ao António
que podemos concluir que o pão mata a fome e enriquece os homens e o António
responde-me com orgulho que ter um pai bondoso não tem preço.
mz
Imagem: Tela de Armanda Passsos
Anjo do Céu, pesquisa google