domingo, 9 de fevereiro de 2014

Em dias de tempestade




Em dias de tempestade,
Sacudimos furiosamente o guarda-chuva.
Barafustamos com a lama nas botas.
Aborrecemo-nos de tanto cinzento.

 Os músculos contraem-se.
Os casacos grossos encolhem-nos,
 Ficamos mais pequeninos.
Atarracados.
Como se carregássemos o abrigo do mundo,
Os molhos de lenha cansam-nos os braços.

As coisas húmidas provocam-nos náuseas,
Bolores.
Bichos-de-conta.
Musgos na calçada da cidade.
Somos esquisitos.
Niquentos.

 Dizemos mal do vento
Quando os cabelos se soltam.
Libertos.
 Em dias de tempestade,
 a natureza torna-se gigante.
Não podemos ir ao mar,
Mas vamos.


mz


Imagem: fotografia, do blogue Diário de Lisboa -  The Lisbon Diary
Jardim de Campolide