segunda-feira, 1 de março de 2010

Quietude...


Dei corda ao tempo, mas ele teimosamente andou para trás...
Atrás dele, voltaram as tardes de Verão em que me espreguicei na minha ingénua adolescência.
Tardes longas de um Verão quase interminável...
Sestas silenciosas numa aldeia de quietude onde nem os pássaros se atreviam a cantar.
Em casa da avó era o tic- tac do relógio de corda,
o ronronar preguiçoso da gata
ou o cacarejar quase mudo das galinhas.
Lá fora, talvez o zumbido amarelo de uma abelha...
Só mesmo a asquerosa varejeira, conseguia estragar aquele silêncio lânguido
fazendo com que alguém se movesse para a poder espalmar.
Havia sestas que eram trocadas pelo sonhar de amores e desamores
vividos por personagens fictícias de uma radionovela ou da leitura de um clássico.
Eram tardes silenciosas em que a máquina de costura ou a conversa das tias
se misturavam com pontos de crochet e limonada fresca.
Por vezes, ao longe, um cantar desafinado de uma cantiga popular
que contrastava com o preto das roupas das mulheres mais velhas
que sentadas à soleira das portas, as entoavam enquanto remendavam
um ou outro par de meias.
Foram tantas tardes silenciosas com os cheiros da fruta madura,
do milho estendido a esturricar na eira,
e da roupa a corar ao sol!...
Aromas secos e cores quentes que se fundiam com a quietude da aldeia e das minhas preguiçosas tardes de Verão.
Há dias em que o relógio volta a trás e teima em trazer lembranças especiais...



(imagem:google)


Minha participação para a FABRICA DE LETRAS com o tema "SILÊNCIO"

"QUIETUDE" é uma repostagem do mês de Agosto de 2009 que quero partilhar pois enquadra-se no tema.
Mais tarde publicarei uma postagem em que o silêncio será bem inqueto.
Até lá...

Com carinho
MZ