domingo, 15 de janeiro de 2012

Amolador...









Arrasta-se ainda ligeiro com uma bicicleta nas mãos. Sobe a ladeira da estrada e, na ligeireza dos seus vagarosos passos, vai parando conforme o corpo lhe pede. E agora, não me levem a mal que eu não sei o nome do instrumento e a língua portuguesa é traiçoeira… Tira do bolso a gaita e leva-a aos velhos beiços e solta aquele som em jeito de uivo  afinado. É o inconfundível som do amolador. Era quase sempre a chuva que trazia um homem destes à aldeia, devia ser por causa dos guarda-chuvas… Apaga-se este som antigo, deixo o século passado e as memórias de criança. Um homem, estende-lhe um embrulho de pano, lá dentro as facas. Trocam umas palavras. Ajeita-se o artesão à sua máquina de trabalho, roda o esmeril e afia, afia, afia… pára cansado e volta a retomar a pedalada. No fim, o pagamento e novamente o som antigo neste século diferente. Para mim, o arrepiante som do amolador.




Tela:Frank Auerbach aqui



Original escrito e publicado...
Mz