Como dizia a minha mãe, em dias de vento, anda o diabo à
solta. Eram coisas de antigamente e sempre que acontecia, pregava-se-lhe uma
dor de cabeça do tamanho do inferno. Fosse lá o que isso quisesse dizer, eu era
criança e ficava impressionada. Hoje, lembrei-me disto, porque o vento andou
por cá. Uma manhã turbulenta de vento cantor, solto e alegre sem que nada
tivesse parecenças a diabo algum. Os gansos grasnaram daquele jeito de que eu
gosto e, parecendo combinados, juntaram-se latidos de cães, trovas de galos e
crianças em galhofadas. Uma cantoria maluca que, de vez em quando, pausava para
dar lugar a “Mitroglou”, a perua de estimação do vizinho do fundo da rua. Desafinada,
de grugulejar grave, vozeava mais abafada que os outros cantores. Para nada lhe deve importar a afinação,
porque nem todos têm jeito para cantar e, melhor que tudo será, sem desistir do
compasso, a espera das migalhas de bolo deste domingo, para amanhã deglutir.
mz
8 comentários:
Adorei ler! Desde as lendas do vento ao cantarolar do peru, ou perua,rs... Muito legal um dia na aldeia! bjs, tudo de bom nessa nova semana,chica
Que giro!
Por aqui também começou com vento, foi optimo par secar a roupa :)))
bjs
Gostei destas "sonoridades" da aldeia. Fizeram-me lembrar a minha infância, já tão distante, quando ia passar férias a casa do meu avô... Um texto muito bem escrito.
Um beijo.
Sonoridades deliciosas. Gostei muito.
Beijinho e feliz semana
Não conhecia essa sabedoria popular... É curioso :)
muito bem escrito...memórias que ficam.
beijo
:)
Poesia ao fim de Domingo, boa forma de encarar a semana que se avizinha! ;)
soa-me bem
um abraço, Mz
Enviar um comentário