Como todos os verões, a Esmeralda tem uns dias seguidos para
a mãe. Enquanto todos dormem até tarde, elas madrugam. Estendem as toalhas de
praia como se dormissem na mesma cama, e conta-lhe das impaciências, das ânsias,
das coisas que tem medo de não ter tempo de fazer. A mãe faz silêncio. Depois,
os murmúrios das vozes que vão chegando, confundem-se com o sussurro da mãe que
chega como se lhe falasse ao ouvido.
- Olha, já agora, quando morrer, quero ir para uma campa
para que, as pessoas que gostam de mim me possam levar flores. Sou como aquela
senhora do filme em que, os gatos não têm vertigens. Isso mesmo, um filme. Um
bom filme para mim, de vez em quando, ajuda-me a esclarecer dúvidas. Por isso
minha filha, não recuses a receita que te dei, aquela dos pãezinhos. A que andas há anos
para fazer, porque dizes que não podes esperar que a massa levede. Faz os
pãezinhos e compara-os à vida. Não há segredos.
mz
imagem: Armanda Passos
artista plásticas contemporânea portuguesa
14 comentários:
Linda e sábia lição essa dos pãezinhos! Há que se dar o tempo de levedar... LINDO! beijos,chica
Gostei muito do texto.
Queixamo-nos da falta de tempo, é certo, mas às vezes também não o sabemos gerir. Eu às vezes sinto um pouco isso.
Achei a pintura interessante. É um nome que não conheço e vou tentar saber mais alguma coisa.
Bom dia:)
Boa semana:)
Chica, a paciência e a espera não é para todos.
bjs
Isabel,
eu gosto muito da Armanda Passos :)
Boa semana também para si, Isabel.
Boa tarde, conselhos de mãe com calma e paciência, só elas conseguem transmitir a sabedoria da melhor maneira.
Excelente texto Paciência as vezes ela foge de mim rsrsrsr.Boa semana pra você.
www.studiocriativoarteemeva.blogspot.com
o levedar da massa é um dos raros segredos da vida
como as mães
um abraço, Mz
Existe Sempre Um Lugar,
as mães são enciclopédias de vida.
Silvana Maria,
tem dias em que nos foge.
Boa semana para si também
Manuela,
é um crescimento com o tempo certo.
Outro para si.
De facto não há segredos. Tudo se resolve fazendo. Só assim o tempo lêvedo e a morte tem sempre desculpa. Deixe-se pois a negra para o fim. Com ou sem flores.
A negra virá um dia, e depois logo se vê.
Interessante.
Li e repeti a leitura. Há mensagens assim: precisam ser bem lidas para serem bem apreendidas e interiorizadas. E essa mãe da história passa-me duas mensagens importantes: para além de gostar que alguém se lembre dela, um dia, após a morte, preocupa-se em dar condições para que possam manifestar essa lembrança.
Quantos de nós não terão esse desejo calado? A haver morte, que não seja para nos deixar cair no esquecimento.
Depois, em resposta à questão existencial colocada pela filha, que não é só da filha, mas de tantos de nós, nos leva a todos, a reflectir na urgência que nos rege, obcecados que somos em não perder tempo, não damos conta de que as melhores coisas da vida, precisam de tempo para se formarem: como o exemplo da massa, que precisa do seu tempo para crescer e dar bom pão. É tudo uma questão de tempo, que quase poderia ser sinónimo de paciência.
bj amg
A interpretação está completa Carmem.
Beijo amigo também para si.
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