Hoje conheci um homem com mil livros. Tem poderes para além
do normal e lê apenas por poisar os olhos nas páginas. É rápido e com visão de
águia. Retém histórias e acontecimentos. Olha, observa e captura. O homem dos
mil livros também faz poemas. Guarda-os. Guarda também escritos num turbilhão
de ideias das quais provavelmente, já nem se recorda. Se assim for, vai contra tudo
o que é ter poderes para além do normal, mas ser homem e carregar mil livros na
vida, é muito peso. Perdoa-se se algo ficar para trás. Os guiões e personagens
criadas ficam a pairar pelas noites de silêncio. Quanto desperdício de talento!
Bastava-lhe organizar o legado, e poderia chamar-lhe eu, o homem dos mil e um
livros.
Mz
Imagem: Almada Negreiros
Desenho a lápis 1939 aqui