segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Mil e um Livros


Hoje conheci um homem com mil livros. Tem poderes para além do normal e lê apenas por poisar os olhos nas páginas. É rápido e com visão de águia. Retém histórias e acontecimentos. Olha, observa e captura. O homem dos mil livros também faz poemas. Guarda-os. Guarda também escritos num turbilhão de ideias das quais provavelmente, já nem se recorda. Se assim for, vai contra tudo o que é ter poderes para além do normal, mas ser homem e carregar mil livros na vida, é muito peso. Perdoa-se se algo ficar para trás. Os guiões e personagens criadas ficam a pairar pelas noites de silêncio. Quanto desperdício de talento! Bastava-lhe organizar o legado, e poderia chamar-lhe eu, o homem dos mil e um livros.
Mz
Imagem: Almada Negreiros
Desenho a lápis 1939 aqui

sábado, 23 de fevereiro de 2013

“The Versatile Blogger Award”


Recebi este selo/desafio da Carolina Tavares, em que terei de escrever sete "coisas" sobre mim.  Agradeço a consideração que teve em me incluir no seu leque de blogues escolhidos e aqui vai...
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1- A monotonia dá cabo de mim.
 
2- Não tolero pessoas que me julguem apenas pela intuição.
 
3- Gosto de organizar o dia seguinte, mas o improviso não me assusta.
 
4- Sou política. Se valer a pena, vou a debate sobre um tema e faço das tripas coração para fazer   entender que esse é o raciocínio certo.
 
5- Tenho o dom de transmitir calma aos outros, mas nem sempre me aguento serena. Ter um saco de boxe cá em casa está na lista de compras.
 
6- Não passo sem exercício físico. As artes marciais ensinaram-me a ser mais segura, mais forte física e emocionalmente. Há um ano que guardei o meu Kimono e as minhas armas. Agora, Pilates e Zumba é a versão “ligth”.
 
7- As conversas mais frequentes na minha vida englobam ✈ contudo, evito escrever sobre este tema.
 
 
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O desafio fica lançado a todos os que me lerem e a quem ousar partilhar mais um pouco de si.
As regras encontram-se aqui .

Obrigada,
Mz

domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Matrona


A matrona, senhora doutora da farmácia, tem o faro apurado sempre que o meu pai entra no seu estabelecimento comercial. Cinquentona burguesa e conservadora de mãos moles e dedos papudos apertados de anéis valiosos derrete-se em salamaleques, gesticulando frenética sobre o estado do tempo e de tudo. Mulher histérica que se prolonga na conversa e são sorrisos e amostras oferecidas para além da receita necessária. Oferecida! A abadessa gananciosa bem pode sorrir com a dentuça amarelada de tantos cigarros fumados que o meu paizinho, nem morto dava um beijo naquela boca de cinzeiro. Eu sei!


Mz




Imagem: The First Lady, 1997 Tela de Fernando Botero
Pintor e escultor Columbiano - pesquisa Google

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Sem Cor



Arrebatador. É como um feitiço sem cor, e quando menos espero, seduz-me de uma forma apaziguadora. Cinzento este que enxergo inexplicavelmente como se fosse a palidez do mundo. Neutro. Sem tentações. Como o desligar de um motor. Parar para escutar. Parar para ver. São outros sentidos. E perseguem-me estes tons como um mandato poderoso de me reconciliar com o que quase deixo de ver, ou que se tornou banal.
Em pequenas doses, não me deprime a ausência da cor. Não me torno basalto ou xisto, fria por natureza. Opaca. Triste. O riso não pára. Quiçá, talvez eu sorria brandamente, e sem querer me avizinhe da quietude. Da paz. Atrevo-me a dizer que quando nos tiram a cor, não se morre.
Mz
Fotografia: Parque Florestal de Monsanto
Do Blogue  de fotografia Diário de Lisboa

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Ser outro Ser


Se não fosse homem, digo que seria gaivota. Não teria pés, nem teria de contar euros para comprar botas no inverno. Estou certo que muito me agradariam as palmuras dos pés para calcar o mar e poder correr sobre as águas. Sem milagres. Andar lá, apenas porque o poderia fazer. Assim, de um modo atabalhoado, agitando asas e salpicando tudo mar afora. Se não fosse homem, volto a repetir; seria gaivota, e a par do impressionante caminhante aquático, o VOO SUPREMO. O abrir de asas e o silêncio do vento arrepiando desejos. Voar mais e mais até me doerem aqueles ossos ocos de ave frágil.


No meu  corpo de homem, um rasgo de cinza para acompanhar a cor de fundo, que no fundo do meu ser, teimo em dizer que todos temos um pouco deste tom de lua sem brilho e sonhos de ser muitas vezes, o impossível.
Mz
Fotografia: Terreiro do Paço 
Do blogue  de fotografia Diário de Lisboa