quarta-feira, 30 de outubro de 2013

As minhas velhas tias.



  
 As minhas tias fazem das rugas e das caixinhas de comprimidos, vincos e acessórios assumidos. A caminho dos oitenta, coradas de alegria agitam os colares e fazem esvoaçar lenços e saquinhos de crochet.
 O almoço com as tias passou a ser prazenteiro e o que há anos parecia entediado, tem hoje um sopro gaiteiro. Elas já viveram tanto que os pudores não lhes é entrave nas conversas nem nos adornos. As que já são viúvas gostam de unhas garridas, de roupas floridas e falam da vida. Dos filhos e dos netos, dos saudosos maridos e dos primeiros namorados. Uma amálgama de episódios respeitosos muitos repetidos em quase todos os encontros, mas sempre diferentes quando lhes acrescentam uma pitada secreta.
 - Grandes marotas!
 E brincam com as ainda casadas, sondando-as e espicaçando-as galhofeiras e gozosas. Se uma manifesta conversa de missa, logo outra, uma anedota maliciosa ou libidinosa, tornando as prosas num embriagante shaker sacro- profano de riso desmedido. E comem de tudo como se fosse dia de festa e eu, debicando uma fatia de bolo delicio-me com este e com elas que quando se juntam deslembram a idade.


mz


Imagem: Fernando Botero
Pintor e escultor Colombiano - Ocaiw

12 comentários:

  1. Muito legal isso. Lembro das minhas velhas tias... Hoje, na família, minhas irmãs e eu, já assumimos esse posto,rs abração,chica

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  2. Eu também tenho muito gosto em chegar lá com esta alegria toda. Parabéns Chica, faça bom proveito.
    bjhs

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  3. Ah que maravilhosas tias! Nada melhor que deslembrar a idade; um sinal de grande maturidade por um lado, e de uma juventude nunca perdida, por outro.
    Adorei o texto e o quadro de Botero!
    xx

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  4. neste instante em que te li,
    tive a impressão de entrar em casa

    realismo e humor e a escrita a fluir

    um abraço, Mz

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  5. Laura, estas são de uma boa disposição incrível :)

    xx

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  6. Manuela, ah então temos mais para o clube!
    ;)

    Abraços

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  7. É bom saber o quanto aprecias a companhia dos mais velhos e o quanto te divertem. Engraçado que a partir de uma certa idade as banalidades deixam de ser seguidas e é preferível o prazer do que a imagem que se teria se não nos deliciássemos. Falo da comida e da linha, é claro. Beijinhos

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  8. Aos 88 anos a minha mãe (já viúva) ainda é, como as suas velhas tias, uma menina risonha que tem muito para contar. Haja quem saiba ouvir.
    :)

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  9. Mary, elas poupam-se para abusarem nestes dias ;)

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  10. Rui, são enciclopédias vivas!
    Parabéns pela sua mãe.

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  11. Sortuda! não tenho nada disso...aguardo quando eu e as minhas irmãs faremos esse papel, já faltou mais!
    Bjs

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  12. Vais ser uma "velhota" divertida :)))

    Abç

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Saber que alguém me lê, é bom.
Retribuirei a vossa visita com muito gosto.Obrigada