Já vos falei dele. De um sem abrigo em condomínio fechado. Durante meses, muitos meses, não me passou indiferente e, várias vezes me questionei como e porque foi inserido num lugar incompatível socialmente com a sua figura e forma de estar. De onde terá vindo. Pensei em todos os nomes para ele. E, surpreendeu-me não ter uma alcunha de rua, ou talvez tenha... Então é ele de seu nome, Feli... Um inadaptado da sociedade, sem abrigo e esquizofrénico adoptado por quem pensa ver um ser paralelo a Jesus Cristo, senão o próprio, dizem por aqui. Formato insano da religiosidade exacerbada, que em vez de bondade consciente pensa e age assim com esta... esta loucura. Loucura!
Já vos falei dele, sim aqui . Dois anos passados, continua sem se adaptar. Já não anda tão limpo e, a pessoa que o acolheu está quase tão louca como ele. A responsabilidade é grande. Esquece os medicamentos, bebe muito e vagueia sabe-se lá por onde. Depois de regresso, volta sujo, faz zaragatas durante a noite. Numa sociedade estruturada e cautelosa desconfia-se e temem-se os marginais, os aparentemente loucos e os verdadeiros loucos. Queremos segurança e uma cidadania responsável. Questiona-se o que se paga para usufruir de um espaço com certezas de alguma segurança. Sem piedade, também acusei, e não gostei que um louco meio andrajoso se misturasse com as crianças no jardim. Depois, habituei-me a ele. Tolerei e condenei-me também. E agora que está ainda mais degradado, finalmente falei com ele.
Apanhada desprevenida, hesitei, mas... Raios, é apenas uma pessoa problemática e doente! Subserviente e cheio de tiques, prontificou-se a carregar o meu saco de garrafas vazias até ao ecoponto. Confiei e cedi. Apagou o cigarro que estava a meio e guardou-o na beira do muro para mais tarde o terminar até ao fim. Enquanto se estilhaçavam todas as garrafas em pedaços de vidro, trocámos algumas palavras. O essencial para me aperceber da esperteza da sobrevivência. Na sua aparente loucura, rápido na comunicação, rápido na tarefa, falou-me atabalhoadamente de contratos de trabalho, da remuneração à hora e, à sua maneira fez-se à moedinha
imagem: google
Com carinho
Mz
Lidar com um doente esquizofrénico não é fácil... sei do que falo... sei também que os tiques, verbalizações e comportamentos estranhos podem assustar os demais, mas é como dizes, são apenas doentes... beijinhos
ResponderEliminarMoedinha que lhe deve fazer muita falta :(
ResponderEliminarCoitado....
É necessário acima de tudo compreensão e não piedade...
ResponderEliminarEva G.
ResponderEliminarsim, claro que é.
Bjs
Pinguim,
ResponderEliminarcompreensão... exactamente!
Ele tem tudo para mudar de vida, mas não aproveita! Gosta de vadiar... vadiar... Mas uma coisa é certa, quando eu deixar de o ver por cá já vou sentir a sua falta.
A solidariedade é das acções mais humanas que qualquer pessoa pode exercer.
ResponderEliminarA facilidade com que se pode cair numa situação de perda absoluta e solidão, aflige-me imenso.
Aceita o convite e visita
http://overdemaistenro.blogspot.com
Bjs
JPD,
ResponderEliminartambém concordo.
Vou visitar!
Bjs
As patologias estragam um ser humano...é triste mas é a realidade...enfim...
ResponderEliminarQuanto ao sei_lá...é um cacto do tamanho normal...o rapazes é que são miniaturas...dá uma ilusão de óptica...:)
Bjs
Talvez não saiba mudar de vida, ser esquizofrénico é complicado e a compreensão das pessoas também se esgota.
ResponderEliminarBjs
Pedrasnuas,
ResponderEliminaré na verdade uma triste realidade, Pedras.
Dá mesmo uma ilusão de óptica :))
Bjs
Lilá(s)
ResponderEliminaras doenças do foro psicológico são terríveis e aliadas a estados de vida degradantes afligem-me imenso. É triste!
Bjs
Papoila,
ResponderEliminarcoitado...