Assim que poisei os pés naquela ilha, disseram-me que tinha de guardar pedras nos bolsos para não levantar voo.
Que os tremores daquele cálice de terra flutuante se confundiam com as aterragens e descolagens dos aviões...
Mar e céu, iriam confundir-se e comungar da mesma cor e, o horizonte seria sempre azul.
Chão semelhante a sapatos de defunto. Muita chuva a acentuar o cheiro químico libertado discretamente em fumos e fumarolas denunciando quão viva era esta terra.
Esperava-me chuva, vento, temperaturas amenas, muita humidade na minha pele. Alguma quietude e um genuíno medo camuflado por paisagens idílicas.
Sim...
O medo aparecia sempre que a chuva acentuava o fumegar tóxico do enxofre descendente das profundezas. Das profundezas que guardam o fogo ardente da lama incandescente. O cheiro do centro da terra que, aparentemente nos engana parecendo adormecida.
Nos primeiros dias, senti-me estonteada pela velocidade louca das nuvens.
Desisti de usar guarda-chuva, pois este voltava-se ao contrário a maior parte das vezes.
E foi quase sempre assim, debaixo de chuva miudinha que o vento me trouxe também o cheiro verde e tenrinho da erva abundante sempre renovada em rectângulos divididos por pedaços de lava.
Fusão de cheiros a terra e mar.
Mar farto e violento que galgava as escarpas negras mas que amansava junto das areias cinzentas da praia. De uma praia, onde a enseada permitia banhos mornos mesmo que a chuva teimasse em cair no Verão e de onde ninguém arredava pé, porque quando isso acontecia, todos esperávamos a visita de um arco-íris perfeito. E a chuva doce limpava-nos o sal do mar.
Recordo a Ilha dos 4 vulcões, a Ilha dos derrames de lava, dos Impérios e dos mistérios negros.
Lá onde o vento é pai de uma vegetação rara e rasteira e a Chuva é mãe da majestosa floresta rendilhada de cones quase perfeitos de criptomérias.
Lá onde a chuva tem outro encanto, os caminhos são bordados de azul e, o cheiro, é também pot-pourri de hortense.
Para:Fábrica de Letras
Tema: "O Cheiro da Chuva"
Imagem Google:daqui
Com carinho
Mz
BELA PARTICIPAÇÃO. A MAGIA DAS LETRAS NOS ENVOLVE NESTE POEMA DE CHEIRO DE CHUVA MOLHADA.
ResponderEliminarNESTES MOMENTOS NOS INTERAGIMOS COM MUITO CARINHO.
QUE SEJA BEM VINDA A CHUVA..ESTE CHEIRO BOM E PERFUMADO CHEIRO DE TERRA MOLHADA.
VEM COMIGO
http://sandrarandrade7.blogspot.com/
CARINHOSAMENTE,
SANDRA
Viajei contigo. Muito bom.
ResponderEliminardescreves a "ilha" tão bem, mas tão bem, que agora bateu uma nostalgia forte. Lembro-me especialmente de uma noite de Outono, em que andei a vaguear a pé pelas Furnas e rodopiei junto das cantarolas de água a ferver. O cheiro a enxofre estranha-se, mas depois entranha-se, a praia da Ribeira quente tem fumarolas que aquecem a água e é verdade, quem é de lá não usa guarda-chuva. Eu também deixei de usar. Parabéns pelo texto.
ResponderEliminar*Sandra;
ResponderEliminarEu escrevi em prosa, mas se te soa a poesia também não é mau:)
Obg
*El Matador;
já não vou aos Açores à imenso tempo, e escrever este texto, foi um exercício de memória. Também viajei.
Obg
*Juana;
não adianta mesmo, o guarda-chuva é substituído pelo impermeável e basta :)
O cheiro do enxofre é mais acentuado quando chove, verdade?
Nunca lá estive mas pelo que se vê em filmes e fotos é LINDO.
ResponderEliminarGostei muito do texto e confesso que me mete muito respeito e bastante medo....a natureza quando se manifesta deixa-me inquieta!
Medrosa é o que sou!
xx
As ilhas são maravilhosas. Tive oportunidade de as conhecer todas.
ResponderEliminarbj
Me pareceu estar ali.Lindo!beijos,tudo de bom,chica
ResponderEliminarEntão estamos juntas, chica!
ResponderEliminarbjos
Tão imagética e profunda tua prosa poética que consegui colher cheiros e sensações indescritíveis.
ResponderEliminarGostei das metáforas, das figuras.
Um texto riquíssimo - o contexto, o estilo, o sentimento.
Fui junto até o limite.
Beijos.
Ricardo
ENTÃO DEDUZO QUE ANDASTE PELA TERRA DO NUNCA...E EU QUE ESTIVE QUASE PARA IR ATÉ LÁ E COLOQUEI DE LADO A IDEIA...SURGIRAM OUTROS DESTINOS...MAS A TERRA DO NUNCA CONTINUA NA AGENDA...TALVEZ PARA UM FUTURO PRÓXIMO...
ResponderEliminarAS TUAS PALAVRAS MÁGICAS, PERFUMADAS E DELICADAS SOAM A TECLAS DE PIANO QUE CONTRASTAM COM A CHUVA,O VENTO,O TROVÃO,O GRANIZO...O TEU LÍQUIDO É POESIA EM BRUTO QUE ESCORRE E TRANSBORDA DO TEXTO...
BJS
Gostei de regressar aos Açores. Obrigada pela viagem.
ResponderEliminarBeijinhos
Hum, os Açores tão bem retratados por palavras...a saudade bateu forte, já há uns anitos que não vou lá.
ResponderEliminarBjs
Mas dizem que é mau o cheiro do enxofre... se calhar assombra o cheiro da terra...
ResponderEliminarBonita participação.
Ando há tempos para visitar os Açores e ainda não consegui.O seu belo texto deu-me a provar um bocadinho do que espero encontrar.
ResponderEliminarObrigada.
*Ricardo Fabião;
ResponderEliminareu é que enriqueço sempre que o leio
Muito obrigada
Bjs
*PEdras Nuas;
faz com que a 'Terra do Nunca' seja a tua próxima realidade... espera pelo florir das hortenses e não te arrependerás.
Bjs
*Tulipa Negra;
sempre que quizeres podes viajar aqui :)
Beijinhos
*Lilá(s)
e não és só tu... eu também estou com vontade de lá voltar.
Bjs
*Johnny;
também dizem que enquanto a Terra o libertar, é bom... evita o efeito de panela de pressão quase a explodir...
Os Açores são ilhas maravilhosas, basta descrevê-las e teremos sempre um texto aceitável.
Obg
*Eduardina;
tens de visitar, é obrigatório no roteiro das viagens :)
Obrigada, eu!
Que bonito texto. Lindo! Soube-me bem lê-lo ao som da música.
ResponderEliminarOs Açores devem ser mágicos.
E são Natália, acredita!
ResponderEliminarbj
É tão fácil visualizar os Açores com este texto. Talvez por ter lá estado há duas semanas, ou então foi porque o texto me tocou...
ResponderEliminarBeijoca!
Tocou-te porque és um 'Rafeiro' sensível e com bom gosto.
ResponderEliminarGostei de saber que foste aos Açores :)
beijoca também para ti!
eu também participei,
ResponderEliminarsaudações otárias!
Otário,
ResponderEliminara sério?
:)
Os teus textos levam-me sempre a sítios estranhos, lol
ResponderEliminarAs ilhas são uma coisa de outro mundo, não tive a tua sorte de as conhecer todas, mas já levo algumas no coração.
Eu vivi lá 4 anos....tive tempo de sobra!
ResponderEliminarE não fazia a mínima ideia de vos levar a sítios estranhos(...risos...)